A Lua em quarto-crescente viu Plutão opor-se ao Sol. Havia algo de ígneo neste instante em que eu assistia ao crespúsculo. Havia uma luz intensa na Lua que nos via, eu e Plutão e o Sol, desde o centro do céu.
Segundo a astrologia oriental, no último quarto-crescente foi o dia do tigre de fogo. Tudo é noite e chamas nesse instante que revisito. O fogo ressalta em sua expressão mais feérica:
“Tyger! Tyger! burning bright
In the forests of the night…”
Eu me demoro pensando neste elemento. Quero-o pleno, impiedoso, devastador. Quero o fogo total, que reduza tudo a cinzas e permita um recomeço absoluto. O fogo divino e implacável como a noite de Shiva.
Shiva abre o retorno ao Supremo. A destruição nos reconduz à essência, à pureza, ao ideal. Ali, despidos de todas as aparências, renascemos depurados. Toda a nossa energia verte luz, como os olhos do tigre de Blake:
“In what distant deeps or skies
Burnt the fire of thine eyes?”
Eis o que foi a Lua em quarto-crescente no dia do tigre de fogo. Ou melhor: eis o que era a sua metade luminosa. Pois havia a outra, a metade sombria, voltada a Plutão. A Lua nesse instante expressava a ironia de um Ser pleno, feito de luz e de sombra, criador e destruidor. Sobre ele, o Ser pleno e irônico, Blake pergunta:
“Did he smile his work to see?”
Ele ri ao ver seu trabalho? Ao pintar a Lua de luz e de sombra, ao opor no céu o Sol e Plutão, ao me trazer o desejo do fogo e o gosto das lágrimas – ele ri?
Sinceramente não sei. Talvez seja isso apenas, o movimento pendular entre yin e yang, a sua peculiar ironia. Ou a sua arte perfeita. Ou a existência pulsante que ele nos dá – e que tento, ao ler os astros, compreender.
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