Arte

A noite canceriana e a aurora

A noite canceriana e a aurora
Falling Star - Witold Pruszkowski

A última fase da lua trouxe dias negros. Julho começou no quarto minguante, com Urano e Saturno em intensa quadratura, Marte e Vênus conjugando-se em Leão e a Roda da Fortuna alinhada ao Sol. Mais que tudo, Lilith flutua solitária em Touro, meu signo. Os dias negros trouxeram nuvens tempestuosas. As nuvens me enganam ao pintarem abismos no céu. 

Por um desses abismos desabei. Um revoada de abutres acompanhou minha queda. Nas entranhas das nuvens vi se forjarem raios terríveis. A face de Lilith, a cada clarão, refletia pavores pálidos. O sol asfixiado era frágil com a luz da vela que o vento apagou. 

Fechei a janela do quarto. Mergulhei na solidão. Encarei cada uma das sete faces da mentira. O monstro rugiu palavras flamejantes e deixou marcas azuis na pele mais íntima de meu ego. 

A luta foi dura. Ainda é. Há de ser longa e traumática. Talvez definitiva. 

Mas hei de vencer. Hei de cravar a adaga no peito do monstro noturno. Hão de se dissipar as nuvens negras e abismais. Há de cair a mentira, a triste mentira que me atormenta. 

A Lua aproxima-se de Câncer. Logo mais será nova. E tudo, o sol e os pássaros canoros e as flores da manhã, renascerá. O velho ciclo terá seu fim. Um novo e vasto e belo tempo se expandirá entre as bordas lilases da aurora.

Cármen Calon

Cármen Calon é astróloga com amor pela, e às vezes pânico diante da, astronomia.

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