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Adão dos Açores: Nossa história – ato 2.

O povo, que logo passaria a ser chamado Carijó, se espalhou pela costa. Numa enseada, sob a grande pedra da montanha, Itapocoroy, meus avós se fixaram.

Meus avós contavam da viagem pelo Peabiru. O caminho descia dos Andes ao Atlântico. Demorou sete luas inteiras até que avistassem, do alto da serra onde nasce o Itapocu, o Oceano.

“Que grande visão! Que grande futuro, suave e azul, anunciava-se!”

Que grande ilusão a de meus avós. O futuro, em pouco mais de um século, iria dizimá-los. Daquele grande povo só restariam os genes, os que estão em mim e na gente desta terra, entre o Itajaí e o Itapocu, que já foi parte da nação carijó.

O povo, que logo passaria a ser assim chamado, Carijó, desceu até o vale onde hoje se espalha a grande Jaraguá. E dali marchou até o mar. E se espalhou pela costa entre a grande ilha do norte e a grande ilha do sul. Numa das enseadas desse litoral, sob a grande pedra da montanha, Itapocoroy, meus avós se fixaram.

Eles, os meus tantos avós, falavam a vasta língua tupi-guarani. Traziam a sabedoria que essa língua guardava. E souberam ser os senhores dessa terra. Até que o mar Oceano trouxe os novos homens. E meus avós, de senhores, passaram a ser cativos. Ou restaram insubmissos, mas mortos. 

Veja também: Nossa história – ato 1.

Adão dos Açores

Adão dos Açores é natural da Penha, onde voltou a morar depois de longa ausência. Escreve sobre história e estórias.

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