Reprodução da arte do pintor polonês Is Mirek (@mirekis7)
A Lua Nova canceriana nasceu numa manhã cristalina, enquanto Marte e Vênus conjugavam-se em Leão. O sábado se abriu limpo, o céu azul, a brisa leve, os pensamentos brilhando como os bilhões de grãos da areia matutina da Praia do Grant. A fase minguante após o solstício, passando por Capricórnio, Aquário, Peixes, Áries, Touro e Gêmeos, espalhou uma penumbra angustiante. A Lua Nova, na manhã do sábado azul, concebeu uma nova luz.
Sob o sol da manhã caminho pela praia. As gaivotas berram famintas. As ondas cochicham segredos. As pedras choram sozinhas, como dizia o poeta, sempre no mesmo lugar. Não assim os astros, sempre tão livres. O Sol e a Lua passeiam lado a lado, como Marte e Vênus, duma borda à outra do grande céu.
Sento-me à sombra. Respiro calmamente. Toco a tela do celular. Permito-me ler notícias. Uma delas me chama a atenção: a fome. Mais de cem milhões de pessoas se juntaram à legião de famintos. Seres humanos sem comida. Um décimo de toda a humanidade. E eu aqui preocupada com os astros!
O ano do boi de metal concentrou a riqueza e espalhou a miséria. Eu, cavalo de terra, galopo distâncias no céu. Me sinto tão culpada! Tão incapaz de encarar o mundo desde minha astrologia tão ocidental, tão egoísta, tão preocupada com os efeitos das luzes do céu – sobre mim, sempre sobre mim. Eu! Eu! Eu! É tudo o que sabe dizer essa minha tagarelice!
A astrologia oriental é menos fixada no Eu. Os signos marcam os anos e os anos marcam as gerações. Os elementos – terra, água, fogo, metal, madeira – quintuplicam as alternativas. A cada 60 anos, o tempo da vida humana, o ciclo recomeça. Essa astrologia une as gerações sob signos grupais. Os astrônomos chineses antigos preocupavam-se menos com as constelações que atravessam de leste a oeste e mais com a estrela polar, imóvel no norte. O palácio do imperador tinha as janelas sempre voltadas pro sul. A influência dos astros, no oriente, une os homens em destinos comuns.
Talvez eu devesse pensar mais no destino humano. Talvez a astrologia, profetizando sempre tão prolixa o destino de cada um, peque por seu solipsismo. Talvez a dança dos astros não signifique nada diante da fome dos homens. A luz da Lua Nova abre sempre um novo horizonte. Diante dele, eu, cavalo de terra, me deparo com este desafio: um novo rumo.
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