O Presidente Bolsonaro tem coisas geniais. Por exemplo: no dia em que o mundo assistia ao início da vacinação contra a Covid-19, em dezembro passado, ele inaugurava uma exposição de roupas. Não umas roupas quaisquer: as que ele e a esposa vestiram no dia de sua posse. Lá estavam os ‘manequins’ do primeiro casal brasileiro: bonecos sem pés nem cabeças, apenas silhuetas e trajes. Os detratores do Presidente babaram de raiva. O Presidente lhes pôs entre as mandíbulas, a tripudiar de sua sanha, o corpo plástico dos manequins.
Neste semana, algo similar. O país enlouquece com as mortes da doença notória. O Senado cogita abrir a CPI que investigará as alegadas falhas do Governo Federal na gestão da pandemia. O STF abre o caminho para a investigação. E então, num tal cenário, o golpe de mestre: a conversa com o Senador radialista.
O diálogo é um primor de maquiavelismo. Bem claro: dou à palavra um sentido que remonta diretamente ao célebre escritor de cujo nome ela se origina; portanto, um sentido positivo. Maquiavélico é o governante perspicaz, enérgico e estrategista. O tal diálogo é pura estratégia: o ataque aos inimigos, a afetada sinceridade dos ataques, a sempiterna capacidade de aparentar ser alguém alheio ao sistema – mais que alheio, alguém disposto a implodi-lo – tudo é exatamente o que Presidente busca ser. Ou parecer. Acreditem: no caso, ser e parecer é a mesma coisa.
Então o mais brilhante da estratégia: a oposição faz precisamente o que o Presidente pretendia. Divulga o diálogo aos quatro ventos, esquadrinha cada palavra, sublinha cada palavrão. E o povo delicia-se. O diálogo surge como a verdade por trás das câmeras. Um rasgo de intimidade. Uma pequena obscenidade que soa diliciosamente autêntica – e que só confirma a inocência de Bolsonaro. Ele pôs a oposição a trabalhar para si. É genial.
Os opositores menos néscios do Presidente dizem que ele sabe desviar a atenção do público. Criaram – ou requentaram – uma metáfora: falam em “cortina de fumaça”. Até nisso, até nas metáforas, são tolos. Bolsonaro não cria cortina alguma: ele abre cortinas para novos palcos e novas encenações. Não se trata de desviar as atenções: trata-se de atraí-las, como flautista lendário fez com os ratos. Bolsonaro não se esconde. Ele se expõe sempre mais e mais: sua intimidade é seu cenário favorito. Ali ele cria os simulacros que inventa pra si e que lhe caem muito bem. Tão bem quanto as roupas em seu manequim.
Há um livro que os opositores liam nos anos 70 e de que já se esqueceram. Uma ficção dum escritor esquerdista. Evito citá-los: o livro e o autor. Digo apenas que se trata da história de PhD, um cientista; e de outras quatro pessoas que lhe servem de cobaias. A construção dos personagens é experimental. A realidade é o laboratório. A pós-modernidade permite isso: depois da morte da verdade, qualquer personagem é possível diante do público atônito. Nesse livro talvez os opositores entendessem algo. Estão longe de entender. O Presidente segue, diante da nação, como um PhD sem antagonistas.
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