Cambia lo superficial
Cambia también lo profundo
Cambia el modo de pensar
Cambia todo en este mundo
Cambia el clima con los años
Cambia el pastor su rebaño
Y así como todo cambia
Que yo cambie no es extraño
Y el más fino brillante
De mano en mano su brillo
Cambia el nido el pajarillo
Cambia el sentir un amante
Cambia el rumbo el caminante
Aunque esto le cause daño
Y así como todo cambia
Que yo cambie, no extraño
(Julio Numhauser).
Os outros são o espelho vivo do tempo. É nas rugas e vincos de rostos alheios que enxergamos nosso envelhecimento, o quanto de areia já escoou na ampulheta de nossas vidas, bem como as mudanças que atravessamos, muitas delas desconfortáveis.
Isso me fez lembrar a história de uma planta que tenho em casa.
Há tempo que eu estava de olho em uma Primavera vermelha que ficava, acanhada, em um canto do jardim. Sempre que passava por essa planta, imaginava o seu incômodo por estar crescendo sobre pedra e barro seco.
Certo dia resolvi intervir. Cavei ao redor da planta e retirei a pedra do meio de suas raízes até que ela pudesse ser extraída inteira. Ao retirá-la, notei que ao redor de suas raízes havia plástico e barbantes amarrados, provavelmente de quando era uma pequena muda.
Fiz uma limpeza nas raízes, retirei todo o plástico, barbantes e barro seco que as envolviam.
Cuidadosamente, preparei uma cova espaçosa com bastante adubo e terra fofa, onde acomodei as raízes limpas da planta e depois preenchi o entorno com mais terra adubada.
A planta sofreu bastante com essa mudança. Após alguns dias, mesmo recebendo água, todas as suas folhas secaram e caíram. Os galhos da Primavera pareciam estar mortos, até que, aproximadamente quinze dias depois, notei o surgimento de um pequeno nó roxo na ponta de um galho cheio de espinhos.
Foi a partir daquele momento que a Primavera ressurgiu com força, fazendo brotar incontáveis folhas novas de cor arroxeada que, aos poucos, sob a luz do sol, foram assumindo o verde característico.
Não demorou muito para que uma floração belíssima começasse a surgir em cachos e mais cachos, primeiramente em tom de cobre e depois convertendo para o vermelho. Flores que atraíram pássaros e abelhas pela sua abundância.
Ao terminar de presenciar esse ciclo, fiz um pequeno verso para registrar a compreensão:
A planta que cresce sobre a rocha,
sofre e murcha, se de lá for retirada,
mesmo que, em terra fofa, replantada.
Vamos ao que há de humano nisso.
O que faz sofrer é, sobretudo, a crença na estabilidade da vida. Crença esta que surge de um profundo desejo de que as coisas que julgamos boas sejam assim para sempr e. É o agarrar-se na ideia de que conseguiremos manter aquilo que nos agrada e afastar o que não queremos.
Não é por outra razão que as crenças de céu e inferno são dotadas de uma estabilidade eterna. Assim sendo, o paraíso Judaico-Cristão e também o Muçulmano é de perfeição inalterável para todo o sempre, assim como o temido inferno será repleto de eterno e indescritível sofrimento.
É também por esse motivo que os finais de ciclo são dolorosos. Eles rompem com a fantasia de estabilidade, causando frustração e dor, seja em razão da perda de um emprego, do término de um relacionamento, da morte de uma pessoa querida e por aí vai.
Mas não adianta, a vida sempre tem os seus solavancos. Se há algo inevitável é, justamente, a mudança, porque nós mesmos somos mutantes, assim como tudo o que a visão pode alcançar. Basta levantar agora os olhos do monitor ou do celular e olhar para fora da janela. Tudo é movimento, árvores balançando com o vento, pássaros voando, pessoas caminhando, carros passando…
Apesar de sabermos disso, continuamos não gostando da insegurança e das incertezas trazidas pela mudança e, assim como a planta Primavera, sofremos em razão disso. A mudança pode até vir para melhorar um estado de vida, mas, no íntimo, o que o ser humano anseia é ter controle de tudo, algo que não é possível nem mesmo no mundo abstrato das palavras.
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