Vi a seleção ontem. Vi, não: aturei. Ou mal pude aturar. Porque vou te contar: foi uma tristeza. Não sei se é o planejamento, mas dá a impressão de que o time já tá se poupando pro Mundial. E o Neymar? Receio que esse rapaz enfrente problemas. Anda atordoado. Parece que um inimigo bárbaro expugnou a última fortaleza de sua razão. Ou uma inimiga. Mulheres nos desnorteiam, é da vida. Eu mesmo já me perdi muita vez. Lembro até hoje duma colombina que conheci no carnaval de 56 e que me inebriou até a copa de 58, quando enfim me libertei de seu feitiço. Benditos sejam Didi, Pelé e Garrincha!
Mas de que eu falava mesmo? Ah, sim, do meu alzheimer. A doença do esquecimento. O médico me disse: “pense em coisas que ativam boas lembranças”. Então tenho pensado muito em futebol e mulheres. Vi a França ontem. Venceu a Espanha na final dum torneio de que eu nunca ouvi falar. Mbappè é bom jogador, parece ter um motor de popa, lembra muito o Cafuringa. Benzema é esperto. Também o Pogba é bom. Ou é o Drogba? Sei lá, ando meio confuso. Alzheimer é uma drogba! A França é a grande favorita a ganhar a próxima Copa? Não sei, sinceramente. Fui tomar um café com um digestivo pra ficar pensando melhor. Como diz a Edith Piaf, “et puis je fume”. Que mulher era a Piaf, mon Dieu!
Mas de que eu falava mesmo? Ah, sim, de futebol. Vi a Argentina ontem. Na primeira meia hora tomou um vareio do Uruguai. Então o Messi sem querer fez um gol. Pronto, acabou o jogo: a retranca uruguaia desabou como um castelo de cartas. Aliás, tenho jogado muito baralho ultimamente. O médico me aconselhou. Noto que Messi ainda tem uns coringas na manga. O time argentino tá se arrumando. A Copa é daqui a um ano. Eles já têm uma canastra. Podem bater e levar o caneco.
Mas de que eu falava mesmo? Ah, sim, de baralho. Argentina tem um ás de ouro. A França, uma trinca de reis. O Brasil, um valete de coração. Aliás, ao que parece, um coração aflito. Mulheres nos desnorteiam, é da vida. Lembro até hoje duma dançarina que conheci em 69. Fiquei enfeitiçado até a Copa do México. Benditos sejam Pelé, Tostão e Jairzinho! Trinca de ases! O Brasil hoje tem nem bem uns pares de setes ou de oitos. A seleção tá uma tristeza. Mas ninguém tem um jogo muito alto. França, Argentina, Espanha, todas vêm com um carteado chinfrim. Não jogo todas as minhas fichas em apostas alheias. Nosso valete pode se encontrar. Nosso jogo pode virar uma fula ou uma seguida. Também nós, que agora jogamos esse futebol atordoado, podemos despertar e papar a Copa.
É uma questão de sorte, como em qualquer jogo. Ou uma questão de amor, como soem ser as questões da vida. O médico me disse: “pense em coisas que ativam boas lembranças”. Então tenho pensado muito na sorte e no amor. E no esquecimento. Como diz a Edith Piaf, “je veux seulement oublier”. Que mulher era a Piaf, mon Dieu!
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