Camilo Pinheiro Machado escreveu no GE um artigo de título provocativo: “Giannis Antetokounmpo não é um monstro”. Provocativo, sem dúvida. O artigo foi publicado um dia após o Milwaukee Bucks ter conquistado a NBA, a mais importante liga de basquete do mundo. Giannis foi o melhor jogador do torneio e teve na partida final uma atuação histórica. O título parece sugerir que há algo de errado com o jogador; ou que o articulista, mesmo diante da façanha, reluta em aceitar este fato óbvio: o grego entrou pro seleto grupo dos grandes jogadores da história do esporte.
Mas não, não era essa a provocação de Camilo. O artigo analisa as palavras dirigidas a Antetokounmpo – em especial esta: “monstro”. Ele tenta compreender a linguagem que se emprega diante de um jogador capaz de um feito poucas vezes igualado – mas, ainda assim, um jogador estrangeiro e negro.
Giannis Antetokounmpo nasceu na Grécia em uma família de imigrantes nigerianos. Não tem o perfil típico das grandes estrelas da NBA. Não teve sucesso precoce. Não mora em grandes centros do país. Não é amigo de rappers ou de astros de Hollywood. É um “apenas” um grego.
E um negro. Não que a ascendência africana seja mal vista por quem acompanhe o basquete americano. Ao contrário: são negros os grandes astros do esporte. Mas a cor da pele, segundo Camilo Pinheiro Machado, explica a linguagem com que o público identifica e qualifica o jogador. Negros são vistos como fortes, velozes, habilidosos. Metaforicamente, são feras ou monstros. Dificilmente se atribuem a eles virtudes cerebrais: genialidade, lucidez, liderança.
Segundo o artigo, Giannis destaca-se sobretudo por estas virtudes. Entre as tantas que tem, a inteligência é a que mais ressalta. Donde a provocação do título: ele “não é um monstro”, é um gênio.
O artigo de Camilo Pinheiro Machado merece a leitura. Mas tem uma falha: a premissa de que parte – a afirmar que Giannis foi apelidado de “monstro grego” – soa um tanto arbitrária. Talvez esse apelido exista de fato. Mas o artigo se exime dessa demonstração.
Em todo caso, algo é certo: Giannis agora passou a ter o status de lenda. Ele ascendeu ao Olimpo do esporte, onde ostenta publicamente virtudes plenas – físicas e cerebrais. Se alguém chamá-lo de monstro, terá que dar a essa palavra um sentido profundo e primordial: será então um monstro mítico, titânico, divino. Algo bem grego.
Mas a linguagem do público já não é capaz de dimensionar o valor desse atleta. Depois de uma temporada soberba, depois das atuações históricas nos playoffs, depois da anotar cinquenta pontos na partida final – não importa o que se diga de Giannis. Diante do que ele fez, simplesmente não há palavras.
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