Arte

Wagner Rengel: Cacos do Ofício

Wagner Rengel: Cacos do Ofício
Arquivo Pessoal

Em junho de 2018 eu não sei o que fazia, mas escrevi este poema que nunca é peça exata de quebra-cabeça, satisfação e preenchimento. Está mais para erguer o véu sobre a ambivalência das vontades de ser único e ser parte do esquema. Sistema, engrenagem, encaixe, só é em miragem, ilusão ou escravidão. O resto, ah, o resto é coisa de gente.

Cacos do Ofício

Sou feito em pedaços,
juntado,
costurado,
colado,
encaixado,
soldado
Difícil ser rápido sem me deixar caído para trás
quebrado,
rasgado,
desencaixado,
desconjuntado,
trincado

Vou com cuidado
Sou lento com banalidades
Cálculos matemáticos

Matemas, grafos, esquemas

Me equilibro em linhas escritas
Tropeço, derrubo e ergo
Existo no erro, na incerteza

No intervalo apareço
desatento

E vou me perdendo
O que ficar por aí
Às vezes
deixo
Letras desamparadas
sem sentido
Se juntam em coletivos de perdidas
Anarquistas
Pichações
Incompreendidas

Nesse ofício disso
Não só eu
No escrito
No dito

Um som caído
Órfão de boca, frase
Minguado, baixinho
Fraco
Sem sentido

Chegue mais perto
Escute

Seria um som de amor?
Caído

Que não alcançou o ouvido
Buraco, furo, orifício
Ficou por ali perdido

Se não encontrar nova boca
Logo vira mutismo
E tudo estará destruído

Tem som que se não bate no peito
Nem deveria ter sido feito
Jurado ou prometido

Talvez o vazio que se tem
É tudo o que não se dá

Aí sim
Sem sentido
Sem letra
Nem som

Só um lugar
Tigela, cumbuca ou bacia
Para juntar os cacos
Catados

Tipo um mosaico
Criado
Inventado

Eita, que caos nessa coisa
Palavras, sons e nada
Ocos estardalhaços

Vou me catar
Estou caído
Sou feito em pedaços.

Wagner Rengel

Wagner Rengel quis ser silêncio depois pássaro depois peixe depois vento depois grilo quis ser gente depois nada. Mora em Curitiba.

Comentários:

Ao enviar esse comentário você concorda com nossa Política de Privacidade.