
De repente ele estava nu. Sem roupas e sem modos, sem nem mesmo a linguagem que disfarça seus instintos. Nu, absolutamente nu, andando pela rua.
Todos se espantaram. E se recolheram em suas casas. E se cobriram de paredes e muros. E espiaram pelas frestas das cortinas. A rua esvaziou-se e ele andou nu e só.
Então na praça fez o famoso discurso. Disse tudo com as palavras mais justas, que se propagaram como setas certeiras. As pessoas atingidas mandaram os exércitos até ele. Nu ele foi arrastado até a prisão.
Mas suas palavras permaneceram livres. Reverberando nos tímpanos do povo. Pandêmicas e devastadoras.
Quem as ouviu disse que são melodiosas. E que têm a cor do pôr do sol. E que trarão um novo tempo em que os homens saberão apreciar sua nudez.
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