
É o lugar mais incrível que conheço: foi o que eu disse a ela, foi assim que a convenci. Agora estávamos ali, na escuridão absoluta do tal lugar, com suas unhas cravadas em minha mão. Estávamos na caverna, tateando a pedra no chão e no teto, sem luz alguma. Eu sabia a direção que seguíamos: ao menos foi isso o que disse a ela. Mas que direção pode haver quando se está imerso no escuro?
Era um dia de sol e estávamos no Parque do Braço Esquerdo havia horas. Fomos primeiro até a cachoeira, enorme e frondosa, que despenca dos altos da Serra. Mergulhamos na água cristalina e nos embrenhamos nos longos cabelos brancos da cascata. Almoçamos açaí de palmito juçara. Descemos até a grande pedra em que os escaladores descrevem vias aracnídeas. Entramos na fenda que se abre ao interior da montanha. Na porta estreita da caverna eu peguei sua mão: vamos?
Fomos. Sem lanterna. Tateando a pedra no chão e no teto. Na escuridão absoluta em que seu corpo tremia e suas unhas cravavam em meu braço. Ela perguntou se estávamos perdidos. Não, não estávamos: eu já ouvia o barulho da água. Era só andar até ele. E andamos. E o barulho aumentou até se tornar ensurdecedor. E então vimos a luz, no alto, de onde desabava a cachoeira. Parece um cenário do Júlio Verne, mas é real: há uma cachoeira farta e estrepitosa no fundo da caverna.
É o lugar mais incrível que conheço: foi o que berrei no meio do barulho. Ela sorriu sob a cortina de água. E cravou suas unhas em minhas costas.





Comentários: