Arte

Enormes detalhes

Enormes detalhes

As cores vibrantes que ilustram de cima a baixo a fachada de um prédio em Florianópolis traçam as formas de duas pessoas, que apesar de anônimas, preenchem os olhos de qualquer um que, onde quer que se encontre no centro da capital para, observa, tira foto e segue sua jornada com o coração aquecido e os sentimentos mais aguçados.

Mural “Histórias no peito” – Realizado em 2021

Os protagonistas desta obra são o motorista de aplicativo Mario e sua esposa, a arte é o muralismo e a artista, Monique Cavalcanti de Souza, a Gugie.

Natural de Brasília (DF), ela adotou Floripa como sua morada aos dez anos de idade. Quando passou a frequentar as rodas de breakdance, ela não precisou ir muito longe para descobrir sua maior paixão e seu futuro ofício: as artes em muros, telas e plataformas digitais. A plasticidade das performances de break influenciam muito do que vemos no trabalho de Gugie.

Filha de artista plástico, Gugie conheceu o mundo do muralismo quando viajou para Buenos Aires, onde a prática já era mais desenvolvida, ao retornar para Santa Catarina, com a consciência expandida, trouxe consigo toda essa experiência. Sem deixar de valorizar a trajetória de artistas autodidatas, ela, no entanto, ressalta a importância do aprendizado técnico, justamente para respeitar, representar e valorizar, da melhor maneira possível, a cultura da arte de rua. Curiosamente, diferente de outros artistas do ramo, Gugie relata que nunca teve boa caligrafia, mas o ímpeto de contar histórias através de seus trabalhos a levou ao curso de artes, tendo inclusive de conciliar os estudos com a rotina pesada do trabalho convencional.

O aspecto turístico atribuído aos desenhos em paredes encontra no muralismo seu maior expoente. Esta derivação do graffiti se faz cada vez mais presente, principalmente na parte insular da cidade, contando inclusive com apoio financeiro de instituições privadas. Estamos tratando de obras de arte expostas em museus a céu aberto, pensadas e executadas com maestria e em grande escala.

A imagem de um motorista de aplicativo e sua esposa, escancara aquilo que nos acostumamos a entender como ordinário, transformando gente como a gente em arte da mais pura qualidade.

“Fui conhecer o seu Mario, ouvi ele. Então combinei de ir até a casa dele conhecer a família e fotografei todo mundo, a esposa, os netos. E foi muito especial pois consegui direcionar as fotos que tirei para o que eu esperava provocar com a pintura. Além do mais que amo a simplicidade, a coisa do olhar afetuoso […] deixa meu coração quentinho. Fiquei muito feliz com o processo dessa arte. Olha pra eles, conhecer, dar visibilidade, trazer com cor tudo que eles me transmitiram.. Não foi só uma oportunidade de crescer como artista mas como pessoa”

Gugie

Como artista multimídia, a artista desenvolve sua verve poética em diferentes formatos: muros, telas, performance e desenho digital. Propõe com suas criações uma estética relacional, onde o contato e a interação com suas obras se traduzem em uma ativação de sensibilidade coletiva.

De acordo com suas palavras, enquanto pessoa negra, mãe e mulher, Gugie busca nas artes produzidas nas ruas um espaço de diálogo, fortalecendo a visibilidade de pessoas que são racializadas e excluídas na estrutura social. Sobretudo propõe naturalizar no imaginário social a presença digna dessas pessoas, as quais ela se identifica, desconstruindo a cultura visual que estão condicionados no decorrer da história.

“Como artista, eu vejo o graffiti não somente como uma intervenção urbana, entendo o graffiti como uma arte relacional, uma arte que desperta sentimentos em vários subjetivos, uma arte que modifica o ambiente, que cria uma descontinuidade, disparando sensibilidades coletivas, isso é muito maior, é muito mais forte”

Gugie

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