Reportagem da Revista Marie Claire deste domingo, 30, destaca:
O médico e influenciador brasileiro Victor Sorrentino foi preso neste domingo (30) por autoridades do Egito após publicar um vídeo no qual aparece assediando em português uma mulher muçulmana. A informação foi confirmada pelo Ministério do Interior egípcio e publicada pelo site El-Shai.
O vídeo circula amplamente pelas redes sociais. O “médico e influenciador”, segundo a reportagem, minimizou o incidente. “Eu sou assim. Sou um cara muito brincalhão.”
O “brincalhão” está preso. A “brincadeira” é um crime. Aliás, são três.
O primeiro crime se consuma na primeira fala. “Vocês gostam mesmo é do bem duro, né?” A frase é de uma grosseria impactante. Uma agressão de vulgaridade hiperbólica: ele faz questão de usar um advérbio a intensificar o adjetivo: “bem duro”. Mais ainda: é uma agressão generalizada. O sujeito da frase está no plural: “vocês gostam”. A quem mais ele se refere? A todas as mulheres egípcias? A todas nós, mulheres? E o pior: trata-se de um gesto covarde. É evidente que a mulher egípcia não compreende a fala. O criminoso não teria coragem de dizer aquilo caso ela pudesse compreender. Ele se esconde sob a opacidade do idioma. Pratica o crime como quem dá um tiro pelas costas.
Ele poderia ter parado aí. Há um intervalo entre o primeiro e o segundo crimes. Neste intervalo, como uma advertência, há o inequívoco constrangimento da mulher. Intuitivamente ela suspeita do que aconteceu. Delicada e bela, com a mais impecável compostura, ela reage: enrubesce, desvia o olhar, deixa claro que não adere à brincadeira escrota. Esse intervalo, essa advertência que a vítima intuitiva e inequivocamente fez, tudo isso era suficiente para que ele parasse. Mais que suficiente: isso era o chamado – claro, aberrante – à consciência. Mas ele prosseguiu: “comprido também fica legal, né?” É o segundo crime. A continuidade delitiva. A violência repetida sobre a vítima já violentada.
E acaba-se a cena. Encerra-se o vídeo. Passam-se talvez algumas horas. Tempo pra ele pensar no que fez. Tempo pra compreender a violência a que submeteu aquela mulher. Tempo mais que bastante. Mas então ocorre o terceiro crime, o mais grave, o mais intragável: o criminoso publica o vídeo – a prova de seus dois crimes anteriores – nas redes sociais. Gaba-se do feito. Expõe o constrangimento da vítima. Goza com seus seguidores o abjeto “prazer” de sua violência covarde. “O vídeo foi publicado por ele em seu perfil que soma quase 1 milhão de seguidores no Instagram”, diz aquela mesma reportagem. Que nojo eu sinto, que nojo!
O homem segue preso, segundo pude apurar. Talvez seja logo liberado. Talvez ele esteja, daqui a uns dias, contando essa história aos amigos numa mesa de bar: estará orgulhoso, talvez, como quem erga um troféu. Não sei, não sei o futuro. É verdade que me propus a escrever, aqui na Abertura, sobre astrologia. Mas amanheci com uma raiva geminiana. E só o que posso prever é que essa raiva me fará – a mim e a todos os que a sentem – cada vez mais fortes.
Comentários: