
Netuno em Peixes, Marte quase entrando em Câncer, Vênus e Mercúrio alinhados com o Sol. Na madrugada em que escrevo (sempre escrevo nas madrugadas) o céu parece harmonioso e pacífico. Mas eu, tão logo se põe a lua, dirijo meu foco ao Hades: nasce, no leste, Plutão.
Faço isso porque estou irada. Compreendo os astros distantes, mas não as pessoas próximas a mim. Alguns de meus leitores me atacaram. E minha ira, como o mestre do Hades, nasceu.
Os ataques se devem a meu último texto. Ali, eles dizem, “tripudiei da astrologia”. Ao invés de extrair um sentido dos astros, eu teria dado a eles um sentido arbitrário: “a astrologia não é poesia”, dizem eles, “é interpretação”.
Ingênuos! E o que é interpretação? Nunca leram Schleiermacher, Gadamer, Heidegger? Pensam haver uma máquina de calcular sentidos? Uma interpretação não contaminada pelo Eu do próprio intérprete? Um texto puro e cristalino a ser lido no Céu? O que é a astrologia senão a mediação do conflito entre o Céu e o Eu? O que somos, cada um de nós, senão um outro Céu diante daquele que é palco dos astros?
Plutão aplaca minha ira. Ele a absorve, nele posso despejá-la. Hades é a antítese do Céu: ali o sentido das coisas se dissolve. Também minha ira se dissolverá. E eu ficarei leve novamente. E me perderei entre os astros do Céu. E ali, por amá-los, farei a astrologia que minha poesia alcançar.
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