No exato instante do equinócio da primavera, às 22 horas e 4 minutos do dia 22, o Sol deixa Virgo e entra em Libra. Nesta mesma noite, às 3 horas em 49 minutos do dia 23, ele está em perfeito alinhamento com Mercúrio, retrógrado. Mercúrio, aliás, entra em Virgem às 9 horas e 4 minutos deste mesmo dia. Pouco antes, exatas 6 horas depois que o Sol os deixou, a Lua vem aos braços de Virgo. Ali, além de Mercúrio, regente do signo, estão agora Lua e Vênus.
Tantas coincidências astrais! Ou serão tantos – e santos – sinais?
No vernáculo da astrologia não existe a palavra “coincidência”. Não existe o acaso. Os dados de que falava Stéphane Mallarmé não rolam na mesa: eles brilham no céu. E ali, na eterna dança ao som da divina valsa, eles emitem sinais.
Os sinais desta noite anunciam um despertar na primavera. Um aguardadíssimo despertar. Afinal, foi um longo e obscuro inverno. Tão longo que pareceu durar o ano inteiro – na verdade, quatro anos. Tão obscuro que, confesso, achei que jamais reveríamos a luz da manhã.
Mas não: na aurora que se abre enfim despertamos. Os sinais são inequívocos.
Mercúrio, o deus-práxis, encontra a pureza de Virgem. É talvez o maior paradoxo zodiacal que esta seja regida por aquele: Mercúrio é a economia, a necessidade material, a dimensão pragmática da vida; Virgo é o espaço de nossa essência mais imaculada, a jovem cristalina que nos remete à era de ouro em que não havia pecados. Ao regê-lo, o planeta é depurado pelo signo: seu poder assume sua função fundamental. Netuno, em Peixes, acentua a oposição dos elementos: de um lado a terra em que nasce, ou renasce, a semente desse poder mais justo e mais humano; de outro, a água que é fonte da vida e faz o broto germinar. Lua e Vênus, em conjunção, afagam a planta: uma traz a luz; outra, o amor. E assim surge, ou ressurge, a rosa é uma rosa é uma rosa de que falava Gertrude Stein.
Sim, os monstros invernais ainda nos espreitam. Mas vejam o céu: brilha na estrela um sinal. Eles podem matar uma, duas ou três rosas. Só não podem impedir a primavera de que falava Pablo Neruda.
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