
Tudo começou com um insight: o poeta é ele mesmo e as circunstâncias.
Imediatamente concluiu: é impossível ser poeta em JS.
Nem a monotonia, nem o provincianismo: o que sufocava sua inspiração era o orgulho jaraguaense. “Um pedaço da Europa no Brasil”, diziam todos, “uma cidade de primeiro mundo”.
Decidiu: iria fugir, vazar, embora pra sempre.
Mas tinha um problema: grana.
Tentou viver durante três meses ascetas no Rio da Luz. Mas se afogou nas sombras da solidão.
Voltou. Caminhou durante sete horas seguidas entre a Reinoldo e a Marechal. Ajoelhou-se diante da catedral e ali se epifanou.
Vendeu tudo: a bike, os discos, a herança da mãe viva.
A mãe chorou quando ele se despediu.
Ele não. Enfiou as coisas no porta-malas do Uno e se mandou.
Pensou: a nova vida começa agora.
Pensou mais: enfim terei a poesia que entrevi nas rachaduras do muro.
E sonhou: talvez eu vá até o México.
Mas teve um problema: uma blitz em Guará.
O policial considerou que seu tijolinho era pesado demais pra servir apenas ao consumo próprio. Havia também meia-dúzia de papeizinhos encharcados de delírio.
Quando entrou no presídio até se consolou: talvez no cárcere eu me torne um poeta. Mas o carcereiro lhe deu palmadinhas nas costas: “calma, rapaz, aqui não é como nos outros presídios do Brasil”. E todos ali sempre repetiam: “esta é uma prisão de primeiro mundo”.
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