
Num futuro distante, ou nem tanto, no alto da torre mais alta:
Editor 1: O que publicaremos hoje?
Editor 2: A matéria sobre o sósia do palhaço Carequinha?
Editor 3: A matéria sobre o professor que fala de comunismo pra crianças?
Editor 1: Pensei em escrever sobre o atentado contra o ambientalista.
Chefe: O que é um ambientalista?
Editor 1: Alguém que luta pelo meio ambiente?
Chefe: Meio ambiente?
Editor 1: Sim. Antigamente o mundo produzia naturalmente a vida. Não havia ainda as bolhas.
Chefe: O meio ambiente era uma grande bolha natural cobrindo a crosta do planeta?
Editor 1: Exatamente.
Chefe: Me custa imaginar.
Editor 1: Vê os três grandes rochedos ao sul? Eram cobertos de mata e fontes de ar puro!
Coro: Oh!
Editor 1: Vê as tantas crateras nas faces desses rochedos? Eram veias abertas da terra e fontes de água pura!
Coro: Ooh!
Editor 1: Vê a parte mais baixa deste deserto onde está nossa bolha? Era o grande rio que corria até o mar!
Coro: Oooh!
Chefe: Esse ambientalista luta por isso? Pela volta da natureza?
Editor 3: Pela volta das matas!
Editor 2: Das fontes!
Editor 1: Do grande rio!
Chefe: Vocês estão loucos? Ar puro, água pura, espaços vitais – tudo isso gratuito? É isso o que vocês querem?
Editor 1: Não deveríamos?
Chefe: Claro que não, seu idiota! Se fosse assim, não seria necessária a bolha. Se não fosse a bolha, eu não teria tanto poder e não estaríamos aqui definindo o que os homens devem saber. Agora vejo: meus ancestrais só se tornaram senhores absolutos quando derrotaram a natureza.
Editor 1: Mas a natureza não sobrevive em nós?
Editor 2: Em todos nós?
Editor 3: Em cada gesto humano?
Chefe: Calem a boca, seus subversivos!
Coro (prostrando-se aos pés do chefe): Mea culpa! Mea maxima culpa!
Editor 3: Vamos fazer a matéria sobre o monstro do comunismo!
Editor 2: Sim, sobre o maldito professor corrompendo nossas crianças!
Editor 1: Dane-se o ambientalista!
Chefe: Hummm, sei não, esse assunto tá meio batido. Gostei deste sósia do palhaço Carequinha. Ele é de Jaraguá, né?
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