Opinião

Lua em Libra em Barra Velha

Lua em Libra em Barra Velha

Jojó e sua família me intimaram no sábado a acompanhá-los num passeio. Eu queria ficar só. O céu estava limpo. A lua cheia nasceria logo depois das seis da tarde. Mas Jojó advertiu:

– Nem pense em sair de barco pra ver a lua do mar! É uma loucura!

A loucura me interessa. Jojó sabe disso. Mas do alto do Morro do Grant ele me mostrou o mar todo riscado de ondas. Sou uma remadora experiente. Sei que meu pequeno barco, ali, seria como uma folha ao vento.

– Hoje não é dia de navegar, Cármen. Hoje é dia de surfe!

Chegamos ao Costão do Tabuleiro um pouco depois da uma da tarde. Pensei comigo: todos os astros, nesta hora, estão acima do horizonte. Figurei a ideia de uma festa no céu. De volta à terra, a imagem não poderia ser mais festiva: havia um campeonato de surfe. Famílias se espalhavam pelo gramado à beira-mar. A juventude desfilava sua beleza nas calçadas. As pranchas desenhavam riscos na tela verde das ondas.

– É uma disputa mental – me explicava Jojó. – Vence o surfista que melhor reage ao desafio do mar.

É belo o surfe. Sei disso há tempo. Mas nunca tinha visto uma disputa. Os surfistas perfilados. O mar em seus olhos. O público em seus ouvidos.

– Agora é a decisão da categoria principal – me avisou o Jojó. – Lázaro, Murilo, Voltolini e Chero. Quatro astros!

Os astros me interessam. Eram quase quatro horas. O vento sul trouxe uma folha que grudou em meu casaco. Pensei comigo: no meio do céu, solitária, está Lilith. O que ela dirá de minha solidão?

– Cármen! – a voz de Jojó rompeu o silêncio. – Vamos ver a premiação?

O campeonato havia acabado e eu, nem percebido. Guardei a folha na bolsa. Juntei-me ao público em volta do pódio. A cena era de uma alegria autêntica. Aplausos e sorrisos. As crianças brincando. O sol colorindo. A comunidade em festa. Barra Velha em torno de um evento pleno de sentido – social, cultural, existencial.

– Às cinco vai ter show do Gazu – disse o Jojó. – Vamos ver?

Vimos. Ali mesmo, em frente ao mar. Quando acabou o show, nasceu a Lua em Libra. Ou melhor: a Lua em Barra Velha. Tudo depende de como se vê. No poente já se via o cinturão de Órion. Nos nossos olhos brilhavam estrelas locais.

Cármen Calon

Cármen Calon é astróloga com amor pela, e às vezes pânico diante da, astronomia.

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