Sou um colunista de surfe. Então não posso reclamar da falta de temas. Tem muito o que dizer sobre o esporte nestes dias. Por exemplo: na última semana houve a penúltima etapa do circuito mundial em Barra de la Cruz, uma praia mexicana de longas (e altas) esquerdas. Outro exemplo: foi cancelada a etapa de Teahupoo, onde roda o tubo mais temido do circuito; por uma triste ironia, na semana do anúncio do cancelamento essa onda bombou em condições épicas, inundando as redes sociais com vídeos alucinantes. Mais que tudo, eu poderia tratar desta notícia crucial: foi definida a finalíssima da temporada. Sim, galera, a finalíssima: em Trestles, na Califórnia, apenas cinco homens e cinco mulheres decidirão o circuito mundial – masculino e feminino – num evento meio esquisito mas, em todo caso, imperdível. Detalhe: entre os homens, três brasileiros – Gabriel, Ítalo e Filipinho (aliás, eles são os três primeiros do ranking); entre as mulheres, Tati Weston-Webb, que tem nome de gringa mas é brasileira e leva nossa bandeira na manga da lycra.
Mas não, não vou falar nem do que houve em Barra de la Cruz, nem do que há em Teahupoo, nem do que haverá em Trestles: este texto é sobre o que tem havido no surfe na última década. Ou melhor: sobre quem é o precursor desse movimento que nasceu há dez anos e que deve perdurar muitos mais. O tal movimento é o que a galera chama de “brazilian storm”. E seu precursor é Adriano de Souza – vulgo Mineirinho, também conhecido como Capitão.
Capitão não é um apelido: é um título. Os surfistas brasileiros do circuito mundial tratam ele assim. Não por acaso: Mineirinho é o cara que abriu caminho pra hegemonia brasileira no surfe. Por isso a palavra que escolhi: precursor. Adriano é um mestre e um exemplo pra dois gênios do esporte: Ítalo e Gabriel. Adriano é o Haydn do surfe brasileiro.
Quem? Haydn? Sim, galera: Haydn. Não sei bem como se pronuncia. Mas sei que ele foi o mestre – e um exemplo – pra dois gênios: Mozart e Beethoven. Haydn era também um gênio, um dos grandes de seu tempo. Mas é mais lembrado por isso: foi o precursor desse “movimento” que conta com os dois maiores músicos da história. Eu sei, galera: parece ter nada a ver surfe e música clássica. Mas tem, pode crer. Genialidade é genialidade.
Falando nisso, lembro da final da etapa da Vila em 2009. Slater e Mineiro, geniais. Mar grande, grosso, três metros na série. Slater ganhou roubado. Verdade que ele deu um floater tão longo que começou em Imbituba e acabou em Laguna. Mas não merecia um nove e pouco naquela onda. Quando anunciaram a nota, a galera entendeu que o americano ia ganhar a bateria. Mas entendeu também que tinha um brasileiro capaz de disputar o mundial.
Em 2011, ano da estreia do Medina, Adriano foi o quinto do ranking mundial. Foi um feito notável. O Capitão mais uma vez mostrava algo fundamental: é possível vencer. Medina foi campeão do mundo em 2014. Mineirinho seria também, no ano seguinte. A partir daí, a tempestade brasileira não parou mais.
Adriano de Souza sempre competiu em alto nível. Foi um atleta completo, no sentido mais amplo da palavra: talento e dedicação, ousadia e foco. Respeitadíssimo, deixa um legado valioso. Será pra sempre um grande ídolo. O Haydn do surfe brasileiro. O capitão.
Mas chegou a hora do adeus. É uma pena. Tanto capitão por aí que deveria dar o fora, por que logo esse é quem se vai? Né, galera? Enfim, é a vida. O nosso capitão sai de cena. Mas deixa o nosso surfe no centro do palco.
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