
Onde ele vivia era hermético. Inóspito. Frio.
Quando ele nos via se encerrava. Evitava os outros. E o mundo.
O que ele era ninguém sabe. Um fugitivo. Um alquimista. O último homem a cultuar o deus Áten.
Nunca alguém ouviu sua voz. Não em Jaraguá.
Apenas conhecíamos o rigor de sua lógica.
Pelas janelas espiávamos sua obra inorgânica. Vidros, pedras, metais: a luz tecendo redes de simetrias replicantes. Nada jamais foi tão exato.
E tudo, a trama luminosa, os símbolos místicos, a vasta oração consagrada ao sol, tudo se inscrevia em sua casa cúbica.
E cúbica então era a arte. E o rito. E ele mesmo.
E seu céu tinha quatro cantos.
Seu destino guinava nas arestas.
Sua teogonia milenar escorria pelas quatro paredes.
Já bem velho ele se embrenhou em densa mata. Ali ergueu uma pirâmide.
E jamais voltou.
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