Arte

O homem cúbico

O homem cúbico

Onde ele vivia era hermético. Inóspito. Frio. 

Quando ele nos via se encerrava. Evitava os outros. E o mundo.

O que ele era ninguém sabe. Um fugitivo. Um alquimista. O último homem a cultuar o deus Áten.

Nunca alguém ouviu sua voz. Não em Jaraguá.

Apenas conhecíamos o rigor de sua lógica.

Pelas janelas espiávamos sua obra inorgânica. Vidros, pedras, metais: a luz tecendo redes de simetrias replicantes. Nada jamais foi tão exato.

E tudo, a trama luminosa, os símbolos místicos, a vasta oração consagrada ao sol, tudo se inscrevia em sua casa cúbica.

E cúbica então era a arte. E o rito. E ele mesmo.

E seu céu tinha quatro cantos. 

Seu destino guinava nas arestas.

Sua teogonia milenar escorria pelas quatro paredes. 

Já bem velho ele se embrenhou em densa mata. Ali ergueu uma pirâmide.

E jamais voltou.

Werner Schön

Werner Schön tenta fazer literatura. Em Jaraguá do Sul.

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