
O mal, em Nêmesis, é centrípeto. Vem de fora, penetra, alcança a mais íntima essência. No fim, exaustos, admitimos: ele venceu.
Calma, isso não é um spoiler. Vamos ao livro.
Bucky Cantor é o diretor de uma colônia de férias nos EUA no verão de 1944. Ele, as crianças, o cenário, tudo seria docemente ensolarado não fosse o inimigo invisível e dramático: a pólio. A doença literalmente torna-se a atmosfera da história – tão pervasiva quanto opressora. E marca os personagens. E mutila. E mata.
É óbvio o paralelo. Também hoje a doença nos cerca de medo e de tragédias. Mas uma diferença ressalta: os personagens. Roth dá a eles uma integridade comovente. Bucky, em particular, é um modelo de coragem e altruísmo. Os homens de hoje, desta nova epidemia, somos maus. Tão maus que talvez a mereçamos. Os homens descritos no livro não merecem. E entretanto o mal os alcança – implacavelmente.
Todo o horror então se revela. O narrador e sua doença. O tempo e suas marcas. Bucky e sua fé mutilada. “Por quê”, ele se pergunta, referindo-se ao destino tão amargo. Roth lhe põe nos lábios uma resposta: “o porquê está em Deus e nele mesmo, misticamente, misteriosamente, nessa horrorosa união num só destruidor”. É Nêmesis. O destino. O mal, rigorosamente trágico, que vence no fim.
Insistimos: isso não é um spoiler. O mal se mostra inevitável desde o início. Desde o título. Sua vitória é o que menos impacta.
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