Assim mesmo, em português. Bem aportuguesado mesmo. Com o “o” depois do “ranch” e o “e” depois do “surf”. Pois vocês sabem: o tal “Surf Ranch” tá dominado. A última etapa do mundial foi lá. E fizemos barba, cabelo e bigode. Filipinho venceu. Gabriel ficou em segundo e fez a quinta final na temporada: cinco finais em seis etapas! A cereja do bolo foi a homenagem ao Mineirinho, que se despede do circuito. Foi uma festa dessa gente bronzeada que habita o Atlântico sul. “Ah-ha, uh-hu, o Surf Ranch é nosso!”
Isso posto, digo o seguinte: a etapa do Surf Ranch é chata e feia e muito me desagrada. Pronto, falei. Tem nada a ver aquilo lá. Surfe de piscina. Surfistas pegando onda no embalo da máquina. As ondas sempre as mesmas: as mesmas paredes, os mesmos tubos, a mesma altura, o mesmo tempo. Mesmice total. É a subversão da essência do surfe. O esporte, afinal, é a dança com o mar, a relação com a natureza, o confronto com o acaso. No Surf Ranch não tem acaso nem natureza nem mar. Nem mesmo praia tem lá, uma praiazinha que seja pro cara meter um guarda-sol e ficar de boas tomando uma gelada. É uma chácara do Slater onde só entram convidados. É o oposto do que a gente espera desse esporte. É o antissurfe, com o “e” no fim do “surf” e dois “ss” sem hífen.
Eu sei, eu conheço os argumentos: é uma onda de performance. O cara dá uma dúzia de batidas e pega dois tubos e ainda voa nuns aéreos. É muita manobra. Vence quem realmente é o melhor: o acaso não interfere. É verdade. Mas essas muitas manobras se tornam repetitivas. Os tubos são falsos, forçados, sem tensão. Os aéreos não têm o desprendimento, o tesão, a loucura. As batidas têm uma agressividade fabricada, padronizada, produzida em série. No fim, além da técnica, conta muito o preparo físico. O cansaço vai tirando os caras da disputa. Coragem, estratégia, conexão com o mar, os três elementos básicos do surfe, nada disso conta.
Mas, enfim, money is money. Slater e a WSL querem a etapa no Surf Ranch, então é isso: surfe de piscina. Menos mau que a rapaziada morena do Atlântico Sul chega lá e passa o rodo. Menos mau que o Surf Ranch, todo metido à besta com sua festinha pra seus convidados, tenha se tornado o Rancho do Surfe. Com o “o” depois do “ranch” e o “e” depois do “surf”.
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