Imagino ele desembarcando numa das margens do Jaraguá. Seus olhos repousam na serra ao poente. Baixam sobre a mata densa e sobre as águas escuras. Erguem-se abruptos até o pico. Aquele era o cenário de sua grande jornada, que então se iniciava. Exatamente em que dia? Em que lugar? Em qual das margens do rio?
Os registros não esclarecem. Sabe-se que era o ano 1876 da era cristã. Que ele era Belga, marechal honorário do exército brasileiro e amigo próximo do Conde d’Eu – o famigerado esposo da Princesa Isabel. Ele, Emílio, o fundador de Jaraguá.
Jaraguá era o nome do rio, do pico, de toda a área entre um e outro. Nome antigo, eco dos nativos carijós, talvez descendentes do grande cacique Iraçu. Emílio não batizou essa terra. Apenas desembarcou com sua família e empregados e escravos. Ergueu um engenho. Fabricou o melado, o açúcar e a cachaça.
E faliu. O prometido canal, que desviaria do salto do Itapocu e permitiria navegar até o mar, jamais foi feito. O engenho emperrou. Os empregados não receberam seus salários. Os escravos não receberam nada além de surras. Uns e outros se uniram naquela terrível noite em que incendiaram todo o canavial.
Emílio partiu, ou fugiu, com a família. Morreria pouco depois nalguma ruela carioca próxima à corte. O Conde d’Eu decerto compareceu ao seu discreto funeral.
Mas Jaraguá ficou. Sobre as cinzas do canavial seria erguida o povoado. Domingos da Nova, amigo de Emílio, reergueria o engenho. Os homens ali assentados deram ao mundo a vila. Os imigrantes, que anos mais tarde ali chegaram, dariam novos rumos à cidade. A jornada de Jourdan fracassou. Mas sobre os escombros de sua empresa fez-se uma grande história.
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