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Nossa história – ato 12

Nossa história – ato 12
Reprodução Internet/Keynews

A Armação Baleeira na enseada de Itapocorói extraiu de meus avós o amálgama de minha raça. Meus avós eram talvez os senhores, antes ricos e depois falidos. Eram decerto os açorianos, fugidos da Ilha de Santa Catarina após a invasão espanhola. Eram os carijós, os que restaram. Eram os negros do Congo e Benguela e Angola. 

Estes formaram o Quilombo no extremo norte da grande enseada. A Praia do Quilombo, reduto nobre da Penha atual, tem esse nome bonito e corajoso pra evocar as origens do povoado. Na terceira década do século XIX, após a falência da Armação, o povoado já havia se estendido até onde hoje é a Igreja Matriz. Ali, em 1839, foi fundada a Freguesia da Penha.  

Segundo Saint-Hilaire, a Freguesia era limitada, “ao norte, pelo Itapicú, e, ao sul, pelo rio Gravatá […]”. Abrangia, portanto, o que hoje são Barra Velha, Balneário Piçarras e Penha. Cidades trigêmeas. Univitelinas. 

A fundação da Freguesia há de ter sido uma festa. Assim como a do Distrito, em 34, e a da Paróquia de Nossa Senhora da Penha, em 25. Foi a Virgem Santa quem deu nome ao lugar, elevado a município mais de um século depois, em 1958. Penha é a pedra da montanha onde Maria em espírito apareceu a Simão Vela, nos tempos árduos da guerra cristã contra os mouros. 

Mas foram os negros do Quilombo que de fato fundaram a Vila. Eles abriram os primeiros clarões na mata. Construíram as primeiras cabanas. Batucaram os primeiros ritos. Hão de ter sido grandes festas as que ali então se fizeram. As primeiras rodas do congado. Os primeiros jantares com o juiz e o pároco. Os eventos históricos como a fundação da Freguesia, em que os tambores só tocavam na alta noite, depois da missa e dos corais.

Em resumo: a Armação gerou o Quilombo que gerou a Penha. E assim, na grande festa de 1839, nasceu a Freguesia que abarcava, do Itapocu ao Gravatá, a geografia mais íntima desta nossa história.

Adão dos Açores

Adão dos Açores é natural da Penha, onde voltou a morar depois de longa ausência. Escreve sobre história e estórias.

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