O que foi essa noite? A Lua de Touro em Escorpião, o céu aberto de maio, o eclipse – o que foi essa noite? A mais clara que já houve? A mais vasta que já vi?
Tudo começou quando houve, no alto da tarde, a solenidade do crepúsculo. O Céu, esse deus azul, na mais completa nudez. O Sol caindo junto de Aldebarã. A Lua nascendo com Antares.
Veio assim o espetáculo. A completa abertura do espaço. A imensa noite. Toda a luz do Sol oculto refletiu na Lua. E quanta luz! Quanto força! Que perfeito sinal! Sempre à frente das garras de Escorpião, a Lua foi subindo pelo arco celeste enquanto as luzes da terra, uma a uma, se apagavam. No apogeu do voo ela alcançou o brilho máximo.
Então, sobre seu corpo iluminado, veio a sombra. Lentamente, como um grande pensamento, ela avançou. Uma escuridão de tons vermelhos, semelhante àquela das noites iluminadas pela brasa, cobriu o corpo lunar.
Todo o eclipse dessa noite terá durado duas ou três horas. Não sei. Não importa. Foi na verdade um instante. Um efêmero alinhamento de Terra, Lua e Sol. Um risco no tempo.
Mas a sombra do eclipse foi mais que um risco. Pois a noite em si foi muito mais que uma noite: foi eu mesma. Essa brecha no tempo, essas horas todas que passei seguindo os astros, esse rito noturno: isso era eu – nascida assim que o sol se pôs, morta assim que ele nasceu. São assim os astrólogos: nascem e morrem como os astros. Uma vida a cada ciclo. Uma existência em cada raio de luz que se acende e se apaga. O que é a vida senão um risco, só um risco, na eternidade?
Vivi como a Lua na noite mais clara que já houve, na mais vasta que já vi. Cumprindo a experiência de habitar a sombra – lenta e avermelhada – que a Terra fez. Sentindo os olhos inundados ao ver ressurgir a luz.
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