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Adão dos Açores: Nossa história – ato 6

Adão dos Açores: Nossa história – ato 6
Bogres, province de Ste Catherine (Charles Motte a partir de Jean-Baptiste Debret)

Meus avós eram agora portugueses. Ou paulistas. Ou guaranis como os carijós. Erguidas as primeiras vilas deste litoral, um povo diverso apareceu. Seu sangue mestiço era o sangue daqueles povos todos, europeus e nativos, das margens de lá e de cá do mar oceano.

Meus avós falavam português. Nesta língua diziam viver o século dezessete. Mil seiscentos e tantos anos de história desde o nascimento de seu Deus. Era muito tempo. Demasiado. Meus avós não perceberam que era a sua nova história, mais que a cruz e a chibata, que lhe pesavam às costas.

Eles tinham agora a cultura branca da Coroa e da Igreja. Mil seiscentos e tantos anos depois da primeira gota da fonte sagrada, eles navegavam o rio caudaloso que nasce desse manancial. Meus avós eram enfim colonizados.

Mas tinham também o saber indígena de seus avós. Esse legado definia esse povo que habitava o litoral de São Chico a Laguna. Portugueses e paulistas e carijós que agora se diziam catarinenses. E fundavam pequenas vilas. E ocupavam a terra que, afinal, seria brasileira.  

Adão dos Açores

Adão dos Açores é natural da Penha, onde voltou a morar depois de longa ausência. Escreve sobre história e estórias.

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