A Arábia Saudita tem um vasto território explorado por algumas das maiores empresas do mundo. Está sujeita a déspotas que são capazes de tudo, inclusive oprimir o povo, para assegurar aquela exploração. As vozes na Arábia que denunciam essa realidade desparecem.
A Amazônia tem um vasto território cuja exploração é disputada por algumas das maiores empresas do mundo. Está sujeita a um governo cujo principal compromisso – assumido especialmente com o agronegócio controlado por algumas das tais empresas – é permitir essa exploração: um governo capaz de tudo, inclusive oprimir o povo, pra cumprir esse compromisso. As vozes na Amazônia que denunciam essa realidade desaparecem.
Nesta semana foi noticiado o desaparecimento de Dom Phillips, repórter britânico ligado a alguns dos grandes jornais do mundo. Ele foi visto pela última vez quando realizava uma reportagem na Amazônia ao lado de Bruno Araújo Pereira, servidor da FUNAI e destacado pesquisador. Ambos, Dom e Bruno, são notórios defensores da causa indígena. Ambos vinham sendo ameaçados por quem não aprecia essa causa.
Mais duas vozes que denunciam a devastação da floresta e dos povos amazônicos foram caladas. Mais uma vez sabemos a quem isso interessa. Há nesse caso, porém, algo que o destaca: um dos homens desaparecidos era um famoso repórter estrangeiro – em serviço. A voz silenciada é a da imprensa mundial.
Assim como na Arábia Saudita, a exposição da realidade amazônica é reprimida com violência. Com um agravante: ao firmarem o pacto sinistro, o Governo Brasileiro e o Grande Capital se valem de um exército – de grileiros, garimpeiros e outros mercenários – que não podem controlar. A violência na Amazônia é mais bárbara. O provável assassinato de Dom e Bruno, mais que um crime brutal, é a prova do nosso retrocesso civilizatório.
Aos olhos do mundo essa barbárie deve ser estarrecedora. Se Dom Phillips é assassinado, o que não acontece aos nativos da Amazônia? Do Pantanal? Das favelas? A qualquer anônimo que atrapalhe aquele pacto sinistro? Eis as perguntas que o mundo faz. As mesmas que o Brasil, hipocritamente, evita.
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