Opinião

Corrupção ao cubo

Corrupção ao cubo

Mal se iniciava este governo e já estourava o escândalo das rachadinhas. Estava tudo claro: a loja de chocolate, os milicianos fantasmas, o Queiroz. O presidente disse: “não vou deixar foder com minha família”. E não deixou. Houve inferências na cúpula das polícias. Flavinho se safou com habeas corpus safados. Então, desde logo, soubemos: haveria um combate ao combate à corrupção.

Os casos começaram a pipocar. Teve ministro flagrado com milhões de dólares em paraísos fiscais. Teve outro fazendo esquema com madeireiros. Teve ministério propondo um dólar por vacina. Teve escambo de barras de ouro por verbas pra (des)educação. A casa civil ficou sob a sombra de uma nogueira com raízes fundas no pântano do centrão. Cargos negociados. Verbas desviadas. Deveres omitidos. Dos bueiros da esplanada subiu um cheiro podre.

Então soubemos: pelos esgotos do estado brasileiro fluíam bilhões. Entre executivo e legislativo criou-se um pacto. O dinheiro grosso da república vazou pelo ralo do orçamento secreto. Simone Tabet definiu assim: “pode ser o maior esquema de corrupção do planeta”.

Está enganada. Esse não é sequer o maior caso de corrupção no Brasil. Muitíssimo mais corrupto é o esquema que destrói o combate à corrupção. A submissão da ABIN e da PF. A precarização dos órgãos fiscalizadores. A nomeação de amigos no MP e no Judiciário: um Aras ali, um Mendonça acolá. Não foi só a Lavajato que morreu: foi o ideal republicano de termos instituições capazes de proteger o Estado.

O “bolsolão do asfalto” é só mais um exemplo. Auditores do TCU relataram um desvio bilionário; o ministro amigo do presidente abafou. A instituição apontou o rombo; a corrupção protegeu a corrupção. É corrupção ao quadrado.

Na verdade, ao cubo. A corrupção do governo combate o combate à corrupção. A corrupção de seus apoiadores aplaude. Viramos uma nação de prevaricadores. Todos vemos a república apodrecendo, mas relevamos: é só o mito cumprindo sua missão. Desde que o capitão vença nossos inimigos imaginários, não importa que afundemos na lama da realidade. Basta fechar os olhos e os ouvidos – e sobretudo as narinas.

Vítor Véblen

Vítor Véblen é iniciado em literatura política. Viveu em Chicago, onde estudou economia. Mora atualmente em Joinville.

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