Parei pra ver a Lua Cheia nascer neste domingo. Todos paramos, ou todos deveríamos ter parado. Foi um espetáculo. Primeiro foi o Sol se pondo num dia lindo no sul da América. Depois, no céu rosado, surgiu Júpiter nos braços de Aquário. Então enfim veio a Lua, ampla e amarela em peixes, estendendo a luz sobre as costas onduladas do mar.
Minha astrologia, muitas vezes, é só isso: ver o céu. Ver o espetáculo. Ver Sol e Lua e planetas e constelações girando em torno dos olhos-do-Eu. Ver o universo como um imenso carrossel. E ali, então, voar! Eis o encanto, a magia, o segredo do astrólogo: voar. Minha astrologia, muitas vezes, é só isso: luneta, astrolábio e una copa de vino. Mas essas são minhas asas – e assim eu voo.
Muitos astrólogos parecem ter se esquecido deste gesto – o gesto de ver. Eles têm os mapas astrais em qualquer canto do universo ruidoso da internet. Ali têm também a literatura cortesã feita só pra afagar o ego narcisista que sempre quer ouvir: “você vai”, “você pode”, “você é”. Então organizam-se as referências e montam-se textos cheios de clichês: eis aí a astrologia vulgar que tanto sucesso faz nas redes sociais.
A astrologia tem seus clássicos, é verdade. Mas quem mais leu a Tábua de Esmeralda? E o que sobrou de Ptolomeu depois de Copérnico? Os astrólogos não temos textos sagrados. Nossa literatura se faz de camadas de escritos profanos sussurrados por lábios sutis a ouvidos libertinos. A era contemporânea permitiu que saíssemos da penumbra das alcovas. Mas no centro do palco iluminado nossa ciência se corrompeu. Hoje, na verdade, somos poucos – embora haja tanta astrologia despejada por aí.
Somos poucos os que veem. E é preciso ver. À meia-noite de ontem a Lua estava em zênite, Saturno e Júpiter entre as estrelas de Aquário e a natureza exaltada diante das luzes astrais. Eu disse que é preciso ver, mas retifico: é preciso ver e ouvir. A natureza não se cala diante de uma noite como a de ontem. A nossa própria natureza, a interna e exaltada pulsação de nosso ser, também não. Especialmente porque o domingo foi lindo na abertura do tempo de virgem. E porque, durante o trajeto da Lua em ascendente ao meio do céu, más de una copa de vino yo he libado! Então eu vi e ouvi demais. E minha astrologia, feita de luzes e sons, voou talvez um pouco mais.
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