Entre os maiores animais do planeta, as baleias-jubarte têm aparecido em grande número nos últimos dias na costa de Santa Catarina. Na verdade, um número jamais registrado. “Nunca tivemos tantas avistagens de jubarte assim perto da costa por tanto tempo”, declarou a bióloga Karina Groch, do Instituto Australis/ProFranca, ao portal Globo.com. De fato, elas têm chamado a atenção. Fotografias e filmagens desses cetáceos têm invadido as redes sociais. Houve registros delas em várias cidades da nossa região. Com o perdão da rima pobre, há baleias-jubarte por toda parte.
As causas desse fenômeno são discutíveis. Especula-se sobre a temperatura mais elevada da superfície do mar ou sobre o cogestionamento de baleias em Abrolhos, seu mais corriqueiro destino nesta época. Em todo caso, algo é certo: a população da espécie tem crescido nos últimos anos. Esse aumento pode não ser a única causa da invasão das baleias na costa catarinense, mas certamente é uma delas.
Durante o século XX a espécie quase foi extinta. A pesca devastou a população de baleias-jubarte até o ponto em que, dado o número ínfimo das que restaram, a atividade se tornou economicamente inviável. Em 1986 a Comissão Baleeira Internacional (CIB) decretou uma moratória, proibindo a caça. Desde então, apesar das constantes violações à proibição (especialmente pela indústria pesqueira japonesa), o número de baleias-jubarte cresceu bastante.
É uma grande notícia. As baleias dessa espécie têm características especialíssimas. Podem migrar durante o ano por distâncias que chegam a 30 mil quilômetros. Isso as fez capazes de habitar todos os oceanos em ambos os hemisférios, ainda que um indivíduo jamais atravesse o Equador: os que nascem no hemisfério sul jamais passarão ao outro, e vice-versa. É uma particularidade interessante: algum magnetismo as amarra, como uma longa corrente, a um dos polos da terra.
Não é a única curiosidade sobre a espécie. As baleias-jubarte têm enormes nadadeiras peitorais que explicam seu nome científico: Megaptera – em grego, “grandes asas”. Não são asas, claro, mas compreende-se: as baleias protagonizam grandes e performáticos saltos, esticando suas vastas nadadeiras pelo ar. É como se voassem.
Outra característica, talvez a mais notável, é o canto. Elas são capazes de cantar ininterruptamente por longos períodos. Roger S. Payne e Scott McVay, em célebre artigo, investigaram em minúcias essas performances sonoras. Há toda uma arte nisso: a capacidade de criar e reproduzir “canções”, os diversos formatos “melódicos”, as peculiaridades rigorosamente “autorais”: cada indivíduo é capaz de sua própria “música”. É sério. Não se surpreenda se descobrir baleias no spotify.
As baleias-jubarte produzem um espetáculo potencialmente artístico. Os mais rigorosos dirão talvez que não se trata de arte: são só saltos e berros e a beleza animal bruta. Pode ser, não discutiremos. Mas, ainda que bruta, a beleza é impactante: artística ou não, é a natureza numa grande performance. Enorme.
Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.
Cookies Necessários
Os Cookies Necessários devem estar sempre ativado para que possamos salvar suas preferências de configuração de cookies.
Se você desabilitar este cookie, não poderemos salvar suas preferências. Isso significa que toda vez que você visitar este site, precisará habilitar ou desabilitar os cookies novamente.
Comentários: