Canção do mundo

talvez eu deva falar do mundo
é disso que preciso

talvez sumam os espíritos
e caiam os símbolos como nozes secas

talvez eu deite na terra
em repouso

ali

cada mero fato não será mais o prenúncio
e o sintoma do terrível

cada tropeço não será a grande queda

e a angústia
vai se dissipar
no toque suave da pele
no exame grave das coisas

mas um dia
terei de voltar a mim sozinho
e cortar os fios do passado
e descobrir meu sonho vazio

e outra vez estarrecido
afundarei no instante
que rasgará o rosto branco
do abstrato