Opinião

Cármen Calon: A noite de Gêmeos

Cármen Calon: A noite de Gêmeos
Arte de @beeple_crap no Instagram

Tenho tantas dúvidas. Quem sou eu entre o céu e a terra? O que dizem as estrelas aos meus olhos, o que diz o chão a meus pés descalços? E o amor: é possível o amor depois de passados os dias taurinos e chegada, enfim, a dúbia noite geminiana?

É tempo de Gêmeos. Tempo de dúvidas. Tempo de se desprender da terra e se perder no ar. Nenhuma outra mudança, na sucessão incessante dos signos, é tão abrupta: a solidez do chão dá lugar ao abismo etéreo. Nada é certo, nada é sólido, nada é palpável. Mesmo o ser, mesmo seu brilho nítido na escuridão do nada, parece vacilar: o ser e o nada desfilam à nossa volta como cavalinhos dum mesmo carrossel. Castor e Pólux, os gêmeos, fizeram com Zeus esse trato abismal: ambos viveriam, alternadamente, a vida e a morte.  

Eu me consumo em dúvidas. Depois das certezas e da excitação taurina, a hesitação geminiana. Hesitante eu deixo os dias passarem. Ele, aquele homem de quem já falei aqui, me manda mensagens. Pergunta por que, de repente, cortei nossa conversa. Parece disposto a consertar um erro que sequer percebe. Mas em gêmeos eu hesito. Não respondo. Não decido nada. Não é hora de voltar a falar com ele. Ou é? Não sei, simplesmente não sei.

Pólux e Castor, o ser e o nada, a vida e a morte – o pêndulo vai e volta. Sinto frio às vésperas do inverno. Mas trago em mim, como sinal de força, o fogo que aquece cada pólo de minha dualidade. Há então uma esperança flamenjante a iluminar a noite. Há, revelados por essa luz, meus mistérios mais bem guardados. E há sobretudo a certeza de que virá a manhã, em que acordarei mais consciente do que sou e mais convicta do que posso.

Cármen Calon

Cármen Calon é astróloga com amor pela, e às vezes pânico diante da, astronomia.

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