
Em noites de Lua Nova eu sempre me alvoroço. Ela e o Sol alinhados – Seleme nos braços de Hélio – botam a gente comovida como o diabo. Se o alinhamento é em Touro, então a coisa fica irrestível. Na última terça, Lua Nova, eu de fato não resisti. Eram dez da noite quando mandei uma mensagem pra ele.
“Conseguiu entender o que significa ser uma taurina?”
Ele, o destinatário, era aquele homem elegante que citei em meu último texto. Era a primeira mensagem que eu lhe mandava. Era meu primeiro aceno. Era a Lua me empurrando em direção ao destino. Ele logo visualizou e respondeu:
“Entendi que o verbo da pergunta talvez esteja errado.”
Além de bonito, ele escreve bem: foi o que pensei. Fui conferir o mapa dos astros: Marte em Câncer, Vênus em Gêmeos, Lilith alinhada com a Lua e o Sol – tudo muito dúbio.
“Sim”, respondi. “O verbo correto é estar. A pergunta correta é: o que significa estar em touro?”
Ele me escreveu imediatamente:
“E o que significa?”
Senti meu peito levemente ofegante. Em três mensagens ele estabelecia um diálogo profundamente íntimo. Estar em touro era precisamente o que fazíamos, o que sentíamos, o que desejávamos. Tratava-se disto, nós bem sabíamos: desejar, sentir, fazer – verbos bem mais ousados. E o que faríamos?
“Significa lançar raízes na terra e oferecer frutos ao céu”, respondi.
“Sua astrologia, suas metáforas”, ele emendou.
“Elas te parecem obscuras?”
Ele agora demorou alguns minutos. Alguns longos minutos. Eu palpitava. Ele enfim respondeu:
“Não entendi bem: o céu é a metáfora do quê?”
Achei vulgar a pergunta. De uma obscenidade imprópria. E respondi apenas:
“Céu e terra não são metáforas.”
A resposta caiu seca na tela do celular. Olhei de novo o mapa: Saturno em Aquário, Netuno em peixes – eu precisava de um copo da água.
“Vou pensar sobre isso”, ele escreveu. “Até mais.”
Foi a última mensagem. Há quase uma semana. Em três dias o Sol estará no seio de outra constelação. O tempo de Touro terá passado. Estaremos todos em Gêmeos, inclusive eu e meu amigo. Ali, além das metáforas, talvez achemos – na terra ou no céu – um ponto de onde recomeçar.
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