Opinião

Cármen Calon: Tempo de Touro

Cármen Calon: Tempo de Touro

Europa, a linda filha do Rei fenício, brincava na praia com seu vestido esvoaçante. Zeus, o Rei do Olimpo, apaixonou-se. Então o deus se transformou num touro branco. Talvez porque quisesse escapar da vigilância ciumenta de Hera, sua esposa. Talvez porque, ao assumir a forma do animal, ele quisesse desferir seu mais certeiro golpe de sedução. Que sabemos nós das intenções dos deuses? O fato é que Europa montou – sei que o verbo soa lascivo – no touro e ambos se amaram em Creta, onde conceberam Minos, que seria o Rei da grande Ilha mediterrânea.

É tempo de touro. O símbolo do impulso procriador. O signo da terra e de sua potência fecundante. Osíris, o deus sob cuja benção os egípcios criaram seu império, costumava ser representado por um touro. Eu sou taurina e somos, as duas metades de mim, o desejo e a razão existentes no animal que seduziu Europa.

Desejo e razão eram exatamente as metades do Minotauro. O filho adulterino de Pasífae, esposa do Rei Minos, também ela apaixonada por um touro. O Rei, irado, prendeu o monstro num labirinto, o espaço onde ele se perde. Eis a mais rica representação da mente: o cenário do ser conflituoso, metade animal e metade homem, que erra eternamente.

Aldebarã brilha no horizonte da aurora. Maio prenuncia o inverno. Touro, como sempre, me seduz. Monto em seu dorso ofegante e deixo-me levar até a ilha. Ou até o centro do labirinto. Posso me perder em meus impulsos. Mas sempre estarei com os pés na terra – e os olhos em algum astro que aponta uma direção.  

Cármen Calon

Cármen Calon é astróloga com amor pela, e às vezes pânico diante da, astronomia.

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