Opinião

Charles Zimmermann: O homem da gaitinha

Charles Zimmermann: O homem da gaitinha

Escrevo sobre o artista que praticamente toda semana ouço uma ou outra das “cerca de mil” composições suas. Ouço enquanto leio, ou escrevo, – como agora, ou na companhia de alguém, ou caminhando ou até mesmo pensando na vida. Esse artista completará 80 anos de idade no próximo dia 24.      

Existem artistas que fazem sucesso. E existem artistas que são influentes. Um artista influente é como um farol apontando o caminho para a geração seguinte no meio de uma tempestade. Eis uma boa opção para Bob Dylan, um dos mais influentes artistas do último século, seja na música, seja dos pensadores da literatura, – ele com Premio Nobel. Nascido Robert Zimmerman, o artista adotou o nome com o qual se tornou célebre em homenagem ao poeta inglês Dylan Thomas. O assisti no Rio de Janeiro em 1998, abrindo o concerto dos Rolling Stones, notei que essa oportunidade seria única. Esse sujeito magrinho, franzino, de voz fanha, gaita de boca e guitarra, tenso, quase tremulo, que o faz passar por antipático, quase sempre todo de preto, sempre de chapéu, é um mito em carne e osso. Dylan nunca foi um sucesso massivo. Em quase sessenta anos de carreira, vendeu cerca de 25 milhões de discos (só para efeito de comparação: os Beatles, que só existiram durante menos de dez anos, venderam mais de 600 milhões de discos). Dylan nunca teve uma música no primeiro lugar das paradas nos Estados Unidos e em raríssimos anos emplacou algum sucesso entre os 50 primeiros da lista das músicas mais executadas naquele país. Entretanto, entre os expoentes da categoria “artistas influentes”, Bob Dylan é soberano. Dizem que não haveria os Rolling Stones sem este, que, aliás, é o nome de uma de suas músicas. Não haveria grandes grupos contemporâneo sem esse homem, o Radiohead, por exemplo. Os próprios Beatles contam que foi Bob Dylan que apresentou o cigarro de maconha a eles, – e depois desse encontro vieram os álbuns memoráveis dos Beatles, – será que havia algo nesse cigarro?  É incrível a quantidade de suas músicas regravadas por outros cantores e bandas, inclusive brasileiros. Zé Ramalho, o nosso Bob Dylan do agreste, que o diga.     

Ao mesmo tempo fantasmagórico (é uma espécie de “espírito que anda” do rock) e vigorosamente vivo, Dylan carrega consigo, para lá e para cá, mundo afora, o testemunho de uma vertiginosa transformação social, cultural, política e estética. Sempre foi um questionador do “sistema”. Nascido num estado americano interiorano, numa região de minas de ferro, mudou-se para Nova Iorque em busca de oportunidades. Passou os primeiros anos “passando o chapéu” em bares e cabarés para tocar umas músicas, e sobrevivendo das moedas que ganhava. 

Dylan continua mobilizando grandes esforços de compreensão. Bob Dylan: ele ajudou a mudar o mundo.                              

Charles Zimmermann

Professor, Escritor e Global Thinker

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