Opinião

Charles Zimmermann: Por que existem países pobres e países ricos?

Charles Zimmermann: Por que existem países pobres e países ricos?
Mercado no interior da Zâmbia

Se ouve com muita frequência: o Brasil tem tudo para ser um país rico. Somos gigante, temos terras férteis, temos recursos naturais e minerais, temos a Amazônia, temos pessoas de boas intenções, não temos terremoto, … Não tem porque lembrar do livro publicado em 1941, “Brasil o país do futuro”. Onde o autor austríaco Stefen Zweig que viveu a última parte de sua vida em Petrópolis, relata seu encantamento pelas belezas naturais da mata atlântica e exalta nossa riqueza em recursos naturais.  

Cinco anos atrás passei exato um mês na Holanda. Nesse pequeno país de inverno longo e verão curto, os agricultores só podem fazer um plantio ao ar livre por ano. A Holanda não possui recursos minerais valiosos. É baixa e plana, sem represas ou poder hidrelétrico, e tem de importar petróleo e carvão para gerar a maior parte de sua energia. Um terço das terras holandesas está abaixo do nível do mar. Terras essas cercadas por barreiras de terra e cimento pra conter o mar. Também compartilha fronteira com a Alemanha, um país muito maior, com forte poderio militar e que a invadiu em 1940. Em 2014 estive em Zâmbia, país do sudeste africano. A estada nesse país está em páginas do meu livro Terra Estrangeira. Zâmbia é rica em minerais, principalmente cobre. Ao contrário da Holanda não precisa comprar petróleo ou carvão para gerar energia. Em vez disso exporta energia elétrica gerada por represas no rio Zambeze (um dos principais do continente africano) para seus vizinhos. O clima é quente os agricultores podem contar com várias colheitas ao ano, em vez de uma, como na Holanda. Diferente da grande maioria dos países africanos, Zâmbia é pacifica, estável e democrática. Diferente da Holanda, o país jamais foi invadido por algum vizinho. Os zambianos são trabalhadores e valorizam a educação. 

Interior da Holanda

Se compararmos essas duas nações a renda média na Holanda é 33 vezes mais alta que a renda média na Zâmbia (na Holanda 49 mil dólares por ano e na Zâmbia é de 1,5 mil dólares por ano). Essa diferença obviamente tem consequências para a vida dos holandeses e dos zambianos. A expectativa de vida no país africano é de 41 anos e no país europeu é de 78 anos.   

Aí se pergunta: recursos naturais e motivação humana não bastam para tornar-se um país rico, de que mais essa nação precisa? O professor norte-americano Jared Diamond em seu livro Armas, Germes & Aço, (livro altamente recomendável pra que é curioso pelo mundo) diz que a riqueza nacional, que o chama de instituições humanas, consiste em leis, códigos de conduta, princípios de uma sociedade, governos e economia. Algumas instituições humanas são eficientes para motivar seus cidadãos e produzirem e, com isso promoverem a riqueza nacional. Outras são efetivas para desencorajar as pessoas a produzirem e, portanto, promovem a pobreza nacional. Economistas generalizam e concluem que as instituições humanas são o principal fator explicando por que alguns países são ricos e outros são pobres. 

O filósofo italiano Umberto Eco falecido em 2016 disse que a Holanda é o melhor país do mundo para se viver. Ele justificou sua afirmação citando a tolerância holandesa com a diversidade étnica, com a religião, respeito ao próximo, interesse do povo por cultura em geral. E o Brasil será um país do futuro? 

Charles Zimmermann

Professor, Escritor e Global Thinker

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