Como classificar o vídeo que registra o assassinato de George Floyd? Não o fato registrado, mas o ato de registrar, o registro em si: como classificá-lo? Uma proeza jornalística? Um flagrante corajoso? Uma obra-prima a denunciar o espírito da época?
Difícil dizer. Provavelmente o vídeo é tudo isso: uma proeza, um gesto da mais admirável coragem, uma obra de arte. É impossível uma classificação exata. Seja qual for, não fará jus à importância histórica desse registro: graças a ele, o assassino de Floyd foi condenado; graças a isso, a história pôde nos dar uma grande lição.
Há algo a respeito de desse registro, entretanto, que é indiscutível: sua autoria. O vídeo que capturou os 9 minutos e 29 segundos da ação brutal de Derek Chauvin, assassino de Floyd, foi filmado por Darnella Frazier. A jovem americana, com 17 anos na data do crime, disse em seu depoimento: “Eu ouvi George Floyd dizendo, ‘Eu não consigo respirar, por favor, saia de cima de mim’… e chorei por sua mãe. Ele estava sofrendo. Parecia que ele sabia que estava partindo.” Mais que testemunhar e registrar o crime, ela sofreu a dor de assistir à sua execução.
Não por acaso a coragem de Darnella foi amplamente exaltada. O governador de Minnesota, Tim Walz, declarou: “Fazer aquele vídeo, acho que muitos sabem, talvez seja a única razão para que Derek Chauvin vá para a prisão”. Suzanne Nossel, CEO da PEN America, uma organização sem fins lucrativos que trabalha na defesa e no avanço da liberdade de expressão, contextualizou bem: “Com nada mais do que um telefone celular e muita coragem, Darnella mudou o curso da história neste país, desencadeando um forte movimento que reivindica o fim do racismo sistêmico antinegros e a violência pelas mãos da polícia”.
De fato, a proeza da jovem é notável. Não apenas pela coragem de registrar uma ação policial violenta e racista – lembre-se, também Darnella é negra. Mas sobretudo pela firmeza de suportar cada instante dos 9 minutos e 29 segundos da cena hedionda.
Nesse episódio tão sórdido e de repercussões tão profundas, há um detalhe central: seu registro, sua filmagem. Não sabemos como definir esse detalhe: é jornalismo, é heroísmo, é arte – é tudo isso. Mas é sobretudo a ação corajosa de uma jovem que deu a esse episódio a justa dimensão – e, dando à história um novo marco, permitiu que aprendêssemos uma grande lição.
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