Observo a dança dos astros ao longo deste ciclo lunar. Na Lua Nova de Touro, em 11 de maio, Marte estava em Câncer enquanto Vênus e Mercúrio aproximavam-se de uma conjunção geminiana. No dia 20, quarto crescente, a Lua flutuava em Leão no instante em que o sol fazia a travessia para Gêmeos. No dia 26, enquanto Vênus e Mercúrio consumavam a conjunção, a Lua Cheia brilhava em Sagitário até ser atingida pela sombra da terra: era o eclipse. No quarto minguante, em 2 de junho, Vênus se entrega a Marte, que a esperava em perfeita oposição a Plutão. Na Lua Nova de Gêmeos, no dia 10, Marte e Vênus estarão em Câncer enquanto assistimos à grande Lua eclipsando o grande Sol.
Quão pleno de significados é este ciclo! Marte, a potência guerreira e sedenta, arma golpes agudos no céu de Câncer. Sob suas garras crispantes cai Vênus, após o encontro gelado com Mercúrio. Netuno, sempre em Peixes, dá fluidez às investidas de Eros, pleno e envolvente à luz misteriosa dos dois eclipses – o da lua, o do sol. O que concluir de tudo isso? A que dança lasciva e irreprimível se entregam os celestes casais?
Impossível dizer. Impossível saber o mais pleno sentido desses movimentos astrais. Eu poderia propor interpretações. Poderia tecer enredos. Poderia jogar na mesa, como búzios de linguagem, conceitos tradicionais da literatura astrológica. Então eu criaria previsões performáticas. Dramatizaria uma guerra entre as potências básicas que determinam nossos destinos. E teria então que supor um destino, pueril e maniqueísta, sempre fadado a simplórios happy ends.
Seria a velha astrologia, feita de tradição e clichês. Uma astrologia por vezes vulgar, perdida em pieguices. O produto de uma interpretação rasa, desatenta às mais delicadas e profundas camadas da linguagem, cega e surda aos abismos poéticos que os astros suscitam.
Já disse Mallarmé: “sugerir, eis o sonho”. Prefiro a poesia sutil que trepida nas palavras mais quentes e que rompe tradições congeladas. Prefiro prever os movimentos e descrever as forças – mas deixar o futuro (e os destinos) em aberto. Prefiro a astrologia feita de eclipses e elipses, cheia de encanto diante das sombras e das pausas silenciosas.
Enquanto o sol ainda está em Gêmeos com a Lua Nova a eclipsá-lo, Marte e Vênus se aproximam aguardando o tempo de Câncer, que sempre corre sob a regência lunar. Nesse tempo, em meio ao fogo de Leão, eles estarão conjugados num encontro ardente.
O sonho de Mallarmé está na sugestão. É o que sonha, também, minha astrologia.
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