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Entre certezas e dúvidas

Entre certezas e dúvidas
Imagem: Josh Pierce (@_jpierce no Instagram)

Logo mais, minutos após o Sol se pôr nesta terça-feira, nascerá a Lua cheia. Notem este detalhe intrigante: Lua de Virgem em Áries. Muito intrigante: se a Lua está em oposição ao Sol, estando este em Virgem aquela deveria estar em Peixes. Ou então, estando a Lua em Áries, o Sol deveria estar em Libra. A Lua cheia sempre deve estar na casa oposta àquela em que está o Sol. Mas não: tem algo de assimétrico no mapa astral desta terça. Na verdade, essas assimetrias são frequentes. E advirto: elas talvez incomodem.

Vamos encarar duras verdades. Não existe a simetria que supõem muitos astrólogos. Os signos não dividem o ano em doze partes idênticas. O movimento dos astros não cabe perfeitamente na roleta russa dos mapas astrais. 

Dizer que um determinado dia pertence a um determinado signo é dizer que o Sol é visto, nesse dia, dentro da constelação correspondente. Estamos hoje em Virgem porque vemos o Sol nesta constelação. Mas a astronomia mostra que a permanência do Sol em cada uma das constelações é bem diferente do que supõe nossa vã astrologia. Por exemplo: ele permanece em Virgem durante 45 dias, de 16 setembro a 30 de outubro – este é o signo mais extenso. Na verdade, nem mesmo há doze signos, mas treze: o Sol permanece apenas sete dias em Escorpião e, antes de estar em Sagitário, transita por uma constelação chamada Serpentário. Você, que se julgava escorpiano, talvez seja serpenteano. Menos mal que terá, em qualquer caso, seu doce veneno. 

Por isso aquela assimetria que percebemos na Lua cheia de hoje. Os signos não correspondem às dozes casas idênticas da eclíptica. Uns duram mais, outros menos. Os astros não estão nem aí para as nossas roletas simétricas. Essa é a dura verdade. 

A astrologia tem que aprender a lidar com isso. Talvez seja doloroso para nós, astrólogos, descobrir os recortes assimétricos de uma mandala revisada pelos astrônomos. Mas talvez seja interessante. A astronomia fornece outras referências, outros textos, outra poesia. Os astrólogos dizem que o Sol entrará em Libra no fim da tarde de amanhã. Os astrônomos dizem que isso só ocorrerá no dia 30. Talvez a Lua não esteja em Áries. Talvez Peixes não esteja em perfeita oposição a Virgem. Talvez a Lua cheia tenha sido ontem, quando ela ainda estava em Peixes (embora só hoje ela estará realmente plena, segundo os astrônomos). Essas dúvidas talvez possam incomodar os mais crédulos. Mas advirto: também de dúvidas se faz a astrologia.

Há uma astrologia possível à luz da ciência. Essa luz embaralha as cartas. Descarta algumas antigas convicções. Cria um novo jogo. Não há problema nisso. Ao contrário: nosso horizonte se expande, nosso vernáculo se enriquece, nossa razão investigadora traz à tona textos guardados em camadas mais profundas da linguagem. Também neles haverá sentidos, sinais, previsões. Também assim, entre certezas e dúvidas, podemos nos situar diante da eternidade dos astros. 

Cármen Calon

Cármen Calon é astróloga com amor pela, e às vezes pânico diante da, astronomia.

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