Stephen William Bragg, mais conhecido como Billy Bragg, é um sexagenário cantor e compositor inglês, nascido em Barking, nos subúrbios da grande Londres.
Minha curiosidade sobre ele começou ao ouvir a canção “The Wars End”, da banda americana Rancid. No primeiro refrão, o Lars cantava “Little Sammy was a punkrocker, You know his mother never understand him, Went into his room and smashed his Billy Bragg record, Didn’t want him to hear that communist lecture”. É fui atrás para descobrir que má influência era aquela.
E a primeira música que ouvi, “Between the Wars”, do EP de mesmo nome, gravado em 1985, tratou-se de paixão “à primeira ouvida”. Pesquisando depois, descobri que o álbum foi inspirado em uma greve de mineradores britânicos entre 1984-1985. Um verso desta faixa me marca até hoje: “I kept the faith and I kept voting, Not for the iron fist but for the helping hand”.
Voltando um pouco no tempo, Billy Bragg teve suas primeiras influências em Bob Dylan e nos Rolling Stones mas, quando viu um show do Clash em maio de 1977, encantou-se com a possibilidade de montar uma banda de rock e ainda fazer ativismo político. Sua primeira banda foi o Riff Raff, que fez seu punk rock de 1977 a 1980, sem tanto sucesso, encerrando as atividades quando ele juntou-se às forças armadas reais britânicas. A canção mais conhecida foi “I Wanna Be A Cosmonaut”.
Suas orientações eram explícitas: um compositor com vertente política à esquerda, combatente do fascismo, do racismo, da intolerância, do sexismo e da homofobia, defensor de uma Grã-Bretanha multirracial e ferrenho opositor ao Partido Nacional Britânico (BNP), o grupo político de extrema direita.
Após a breve parada para cumprimento do serviço militar, ele retornou a sua comunidade local, quando começou a apresentar-se da maneira que ele tornou-se mais conhecido, apenas com uma guitarra e um amplificador. Conseguiu lançar, então, seu primeiro disco, “Life’s a Riot with Spy vs Spy”, com apenas sete músicas e pouco mais de quinze minutos. Ainda assim, foi eleito o 440º melhor disco pela New Musical Express (NME) na lista de seu top 500. Todas as músicas deste disco são boas, com mais destaque para “To Have and to Have Not”, que teve uma cover feita por Lars Frederiksen and The Bastards, e “A New England”, seu maior sucesso na fase inicial.
Em 1986, foi lançado “Talking with the Taxman About Poetry”, com o nome inspirado em um poema do poeta russo Vladimir Mayakovsky e agora já tocando com uma banda, e não apenas com voz e guitarra. Este disco tem uma das minhas preferidas, “Greetings to the New Brunette”, que mostra Billy Bragg na sua melhor forma misturando pop, humor, política e relacionamentos: “Politics and pregnancy are debated as we empty our glasses And how I love those evening classes”. Sabe quem toca guitarra nessa canção? Johnny Marr, ex-Smiths!
Em 1988, Billy Bragg lançou um impecável disco com muitas baladas românticas. Se você está no humor para isso, não se pode deixar de ouvir “She’s Got a New Spell”, “Must I Paint You a Picture?”, “The Price I Pay”, “Little Time Bomb” e “Valentine’s Day is Over”. No disco também está “Waiting for the Great Leap Forwards”, uma canção política atemporal, que ele muda a letra a cada apresentação de acordo com o cenário político vigente.
O melhor disco na opinião daquele que vos escreve foi lançado em 1991, “Don’t Try This at Home”, repleto de grandes canções como “Moving the Goalposts”, “Everywhere” (sobre a perseguição aos nipo-americanos ao fim da II Guerra Mundial), “You Woke Up My Neighbourhood” (com participação de Michael Stipe and Peter Buck, do REM), “God’s Footballer” (sobre um prodígio da seleção inglesa de futebol que parou de jogar no auge para tornar-se testemunha de Jeová), “Sexuality” (uma ode ao direito às diversas formas de amar), “Mother of the Bride” e “Tank Park Salute”. Esta é a canção mais triste que já ouvi na vida, sobre a morte de seu pai, impossível não se emocionar.
William Bloke, de 1996, é outro excelente disco. Lá estão “From Red to Blue” (“Sometimes I think to myself, Should I vote red for my class or green for our children?”), “Upfield”, “A Pict Song” (musicalizando um poema de resistência do poeta anglo-indiano Rudyard Kipling), “Brickbat”, “The Space Race Is Over”, “Northern Industrial Town” (tente adivinhar qual cidade ele descreve!) e “The Fourteenth of February”.
Paralelamente, Nora Guthrie, filha do cantor folk americano Woody Guthrie, falecido em 1967, convidou Bragg para musicalizar algumas letras de seu pai que não haviam sido gravadas. Em parceria com a banda americana Wilco, foram gravados dois grandes discos com uma pegada totalmente folk, Mermaid Avenue, em 1998, e Mermaid Avenue Vol. II, em 2000. Vou tentar ser mais conciso: não perca “California Stars”, “One by One” e “Hesitating Beauty” do primeiro e “Airline to Heaven”, “Feed of Man” e “Stetson Kennedy” do segundo.
Billy Bragg lançou mais alguns bons discos nos anos 2000, mas sua fase de ouro foi até aí.
Contudo, seu ativismo não parou por aí. Em 2007, no quinto aniversário da morte de Joe Strummer, Bragg fundou Jail Guitar Doors (mesmo nome de uma canção do Clash), uma organização que visava fornecer instrumentos musicais para as prisões e encorajar os prisioneiros a encararem seus problemas de uma maneira de maneira menos belicosa.
Em 2014, ele comprou uma briga com David Bowie, que manifestou-se contra a Escócia e o País de Gales deixarem a Grã-Bretanha no referendo daquele ano. Disse BB que “A intervenção de Bowie encoraja as pessoas na Inglaterra a discutirem as questões do referendo da independência, e eu acho que os ingleses deveriam estar discutindo isso, então eu acolho sua intervenção”, embora defensor da autodeterminação do povo escocês.
Billy Bragg permanece fortemente ligado às causas políticas na Grâ-Bretanha, possuindo influência em parte da população e mídia, sendo convidado para diversos debates políticos na TV, escrevendo colunas para o jornal The Guardian e influenciando nas eleições locais. E também, é claro, torcendo para o West Ham United e a seleção inglesa de futebol, suas outras paixões.
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