Mapa do frio

Mapa do frio
Alexandre Oeninng (@xande_oeninng)

Ao nascer do sol você olhará pela janela e verá o gramado branco. Talvez seja uma geada forte. Talvez neve. Decerto será frio, muito frio. E bonito, muito bonito. 

A Serra Catarinense é o lugar mais frio do país. Também um dos mais bonitos. Entre os campos de Lages e a borda-leste do planalto, as poucas cidades da região compõem um destino turístico recomendadíssimo – especialmente para esses dias gelados. 

A Abertura lança um olhar sobre esse destino. Destaca os pontos altos. Dá algumas dicas necessárias. E ousa traçar um mapa – que pretende ser sério como a proposta de um roteiro, mas também lúdico como um convite a uma busca do tesouro. 

Yasushi Hosoi (@yasushihosoi no Instagram)

As curvas das serras. 

A maioria dos turistas vem do norte. Outros tantos vêm do sul e do oeste. Mas o melhor acesso à Serra Catarinense está a leste. São dois acessos, na verdade. Duas estradas. Duas “serras”: a do Rio do Rastro, ao sul; a do Corvo Branco, ao norte. 

Difícil dizer qual é a mais exuberante. A subida pelo Corvo Branco conduz – através de uma enorme abertura na pedra – ao vale do Rio Pelotas. É o começo do grande rio que deságua no Uruguai. A estrada que acompanha o curso das águas cristalinas passa por dezenas de pequenas propriedades rodeadas por macieiras e pastos verdejantes, como diria o poeta. Dá vontade de parar em cada uma. Dá vontade de viver ali, numa casinha dessas, pra sempre.

A estrada do Rio do Rastro dispensa apresentações. É uma atração à parte. Traz sobretudo a marca do contraste: o trajeto sinuoso cravado nas montanhas escarpadas de repente se torna uma reta longa na face do planalto. Ali é Bom Jardim da Serra, uma das cidades com mais opções de estadia na região. Dali, por uma estrada ignota, se pode ir ao Rio Grande do Sul, passando pelo Cânion Monte Negro. 

Thiago Gonçalves (@gonthiagon no Instagram)

Uribici e São Joaquim.

Os principais destinos da região são as duas cidades mais interessantes. 

São Joaquim é o começo de tudo, quando se fala em turismo de inverno. A cidade é um altiplano descampado, aberta aos ventos que vêm do sul e do oeste. A vocação turística se mistura com as raízes campeiras. Se cair uma chuva fina, tudo se mistura com a neve. 

Partindo-se dali, o caminho a Uribici é magnífico. Passa-se por Pericó e Vacas Gordas, no vale do Rio Lava-tudo. A leste dessa estrada está o Parque Nacional. Chegando-se em Uribici, a paisagem muda. É um vale encravado no Planalto. Uma cidade com um pouco do charme dos destinos serranos mais elitizados, mas sem perder o jeito rústico. E uma geografia soberba: os vales, as cachoeiras, os cânions, os morros – inclusive o da Igreja, o ponto literalmente mais alto do roteiro – tudo é soberbo. 

Cris Rota (@rotacris no Instagram)

Comes e bebes.

Boa comida a bom preço é uma marca da Serra Catarinense. Restaurantes simples e autênticos são comuns – e geralmente muitos bons. Mas cada vez mais surgem lugares, por assim dizer, requintados. Nas pousadas mais luxuosas há boas opções; nas várias vinícolas da região, há ótimas. 

As vinícolas, aliás, são imperdíveis. Os “vinhos de altitude” já conquistaram seu espaço na alta enologia brasileira. Não seria exagero dizer que alguns dos melhores blends do país foram produzidos ali. A visita a esses cenários dionisíacos pode ser deliciosa. 

A serra estancieira. 

Mais a oeste os cenários mudam. Ou melhor: ali os cenários não mudaram. Conservam algo do que tinham há dois, três séculos. Algo do caminho dos tropeiros, que unia o Rio Grande a São Paulo. Urupema, Painel, os arredores de Lajes, muitos lugares dessa região ainda são capazes de resgatar o clima da estância, um turismo rural de muito riqueza e autenticidade. E claro: muito frio. 

Dicas. 

Consulte com antecedência a situação das estradas. Muitas delas são precárias. Além disso, o gelo pode ser um fator de (alto) risco para o trânsito. 

Não vá a Serra sem ter hospedagem reservada. Passar a noite na rua pode ser uma experiência traumática. 

Respeite o frio. Use roupas e calçados adequados. Alimente-se bem. Cuidado com as aventuras – muitas delas imperdíveis – sem orientação suficiente.

Presta atenção na natureza: o bioma típico do planalto meridional, entremeado pelas paisagens abertas das coxilhas, forma um cenário magnífico, único, inesquecível.  

Esteja atento às circunstâncias: a previsão do tempo, a altitude dos lugares, a variação das temperaturas – considere todas essas variáveis para potencializar suas chances de ver a neve. 

Divulgação Viajoteca

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