Em minha última coluna falei de Vladimir Putin. Do enorme êxito de sua estratégia. E de como ela pode servir de inspiração ao Presidente Bolsonaro. Sem surpresa, vejo que muitos não me compreenderam. Apontam a distância, ou a oposição, do Presidente Bolsonaro em relação ao regime russo. Dizem que Putin não inspira, mas repugna o nosso Presidente. Alguns até me acusaram de comunista. Eu, comunista! Francamente.
Aos que veem o mundo como um desenho animado dos anos 80 (os desenhos de hoje, que às vezes vejo com meus netos, não são tão maniqueístas), faço um breve esclarecimento: Putin não é comunista. É um conservador, aliás, na mais estrita acepção do termo. Essa é uma evidência tão manifesta que me dispenso de demonstrar. De “comunista” ele só tem a maquinaria estatal herdada à União Soviética, que ele naturalmente utiliza para consolidar seu poder interna e externamente. Sua ideologia pode ser resumida numa palavra: poder.
Interessam-me os meios que ele utiliza para assegurar e expandir seu poder. Interessam-me seus golpes de inteligência militar e de geopolítica enxadrista. Interessa-me sua estratégia. Não tenho dúvida de que ela também interessa ao Presidente Bolsonaro. Afinal, estou seguro de que nosso Presidente vê muito além do que supõe a vã filosofia de muitos – seguidores ou não.
Essa estratégia, a de Putin, é pós-moderna. O criador, Surkov, é um vanguardista. Seu grande talento é perceber o caos reinante na cultura atual; e se aproveitar disso pra consolidar o poder do Presidente russo. O caos decorre da crise dos ideais. A justiça, a beleza e a verdade já não têm um sentido firme. A razão não pode sustentá-las. Surkov entendeu que é possível fazer política sobre os escombros desses velhos ideais. Mais ainda: aí se pode fazer a guerra.
A guerra, eu já disse aqui, está em curso. É uma disputa pervasiva que invade cada dimensão do mundo da vida – pra citar novamente aquele péssimo escritor frankfurtiano (argh!). Uma disputa militar em pontos estratégicos; uma disputa biológica em genes absconsos; uma disputa linguística que é poesia pura.
O Presidente Bolsonaro compreende tudo isso. O caos não o assusta. A guerra o excita. Os discursos de paz, cheios dos clichês da modernidade, não o iludem. Ao inspirar-se em Putin, ele não se alinha a blocos ou a ideologias: ele estuda as formas de consolidar seu poder. E então, uma vez empoderado, realmente governar.
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