Então a casa do Paulinho caiu? Quer dizer que o ministro tem dez milhões de dólares nas Ilhas Virgens Britânicas? Na conta duma offshore chamada Dreadnoughts? Dreadnoughts: que baita nome pra uma offshore! Parabéns, Paulinho!
Pra dizer a verdade, não sei o que explica todo esse escarcéu. Convenhamos: dez milhas é uma mixaria. Ele deve usar esse dinheiro pra pagar a empregada doméstica da mansão de Miami – empregada, aliás, que já foi pra Disney. Além disso, ele declarou tudo à Receita, tim tim por tim tim. A galera anda pegando muito no pé do Paulinho.
Admita-se: foi um bom investimento. Quando ele depositou o trocado nas Ilhas Virgens, isso equivalia a R$ 23 milhões. Hoje corresponde a R$ 51 milhões. Ele se antecipou à alta do dólar! Sim, é verdade: ele é o grande culpado pela alta do dólar. Mas vocês acham que ele fez isso só pra valorizar aquele trocado na conta da offshore? Parem com isso! Brasileiro vê maldade em tudo…
Paulinho fez o dólar desabar por uma razão nobre, nobilíssima: a amizade. Ele tinha amigos querendo comprar ativos brasileiros. Petróleo, minérios, energéticas, terras agriculturáveis (especialmente na faixa amazônica). Esses amigos têm dólares, entre outras moedas estrangeiras. Então Paulinho desvalorizou o real. Assim os tais ativos ficaram bem mais baratos. Como é bela a verdadeira amizade!
Tá certo que a alta do dólar geraria inflação. Especialmente numa economia cada vez mais primitiva e mais dependente de insumos e bens e serviços estrangeiros. Essas são duas heranças que Paulinho nos lega: a desindustrialização e a volta da inflação. Mas que mal há nisso? Sempre fomos o país da ‘plantation’, como diria o Furtado. E quase sempre tivemos inflação. Sim, é verdade: ela estava controlada havia mais de duas décadas. Mas esse é o preço da nossa liberdade: nossos barões são livres pra mandarem a grana (e a família) pro exterior, nossa moeda é livre pra desabar, nós somos livres pra decidir entre fuzis e feijões.
Muitos queixosos já estão se irritando com a situação do país. Brasileiro reclama de tudo! Sim, é verdade: a recessão assusta os empresários, o desemprego assusta os trabalhadores e a miséria assusta todos nós. Mas vejam a notícia boa: apesar de tudo isso, Paulinho segue firme no poder. Recessão, desemprego, fome: nada disso o abala. Há uma fortaleza em torno dele. Pudera: um homem que preza tanto as amizades há de contar com a proteção dos amigos.
Dreadnoughts: o nome da offshore do Paulinho. Traduzindo: encouraçado. Um navio de guerra difícil de afundar. Assim é Paulo Guedes. Paulo Pandora Guedes Papers. O ministro cujo nome se entrelaça com um dos maiores escândalos financeiros da história. E que apesar disso, ou justamente por isso, segue navegando em águas calmas – e, aliás, caribenhas.
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