Pedras. Pedras, pedras e pedras. Tudo por aqui lembra isso: pedra. Penha? É uma pedra. Piçarras? Seixos, cascalhos – pedras. Itajaí, Itapocoroy, Itapocu? Pedra do rio, pedra no morro, pedra alta. As pedras estão por tudo e nos espreitam como se fossem vozes propondo o eterno dilema: “que querem vocês com uma existência tão fugaz?” Pedra pedra vasta pedra, se eu me chamasse Pedro, seria uma rima, ou nem isso; e não seria solução nenhuma.
Adão eu me chamo. Adão dos Açores. No nome trago a origem de meu pai. Na pele, a de minha mãe. Sou filho da terra pedregosa da Penha. Cresci vendo a arte açoriana da pesca. Fugi atrás do sonho tapuia do eldorado. Mundo mundo vasto mundo: mais vasto é meu coração. E mais duro. Coração de pedra: não se deixou encantar por lugar nenhum. E quis, enfim, esta terra de volta. A única em que ele pode viver. Como a pedra que chora sozinha num mesmo lugar.
Nas andanças pelo mundo me tornei um contador de histórias. No regresso, contarei a história daqui. Da minha terra. Deste torrão entre as Barras do Itajaí e do Itapocu. Assim minhas memórias se tornam sólidas. Assim eu sopro o pó das lápides de meus antepassados. Assim algo de mim talvez se torne perene como as pedras desta terra, as únicas testemunhas indiscutíveis de toda a história que vou contar.
No fundo, a nossa história. Pois todos aqui nos banhamos neste mesmo rio em que corre o tempo deste lugar. Um rio em que somos, cada homem em todo esse tempo, pedra, ita, ponto fixo no fluxo sem fim.
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