Imagine-se dançando uma valsa – dois pra lá, dois pra cá. Você e seu par dando voltas no salão. Vocês bailam pelas bordas do tablado, junto às mesas cheias de estrelas. Assim descrevem órbitas quase idênticas em torno da grande luz central. De repente você dá dois passos longos e ligeiros e ele, seu par, parece não acompanhá-la: por um instante você tem a impressão de que ele gira na direção oposta à sua. Mas é só uma impressão: seus olhares se encontram, seus rostos sorriem e a dança segue na mesma e sublime translação.
Mercúrio, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão são pares com quem dança nossa mãe terra. Todos eles estão retrógrados: neste preciso instante, eles parecem descrever uma órbita inversa à nossa. Em torno do centro do amplo salão solar, eles parecem bailar no sentido oposto.
É só uma impressão. Algo como uma ilusão de ótica. Mas uma ilusão que os olhos do astrólogo não podem deixar de perceber. Observamos Júpiter, por exemplo. Hoje, logo após o Sol se pôr, o planeta maior aparecerá a leste em Aquário e brilhará até descer no poente mais ou menos às quatro horas da manhã. A cada dia a hora de seu crepúsculo está recuando: amanhã ele vai se pôr um pouco mais cedo. É o contrário do que ocorre com a Lua: a hora da Lua se pôr amanhã (em qualquer amanhã) é sempre pouco mais tarde da hora em que se põe hoje (em qualquer hoje). Se observados ao longo dos dias, semanas e meses, Júpiter e Lua parecem seguir sentidos opostos no céu. O planeta está retrógrado.
Isso nos incomoda – sobretudo a nós, astrólogos. Sentimos isso como uma desarmonia. A força desses planetas parece nos atingir com rudeza. Júpiter, o planeta (e o deus, segundo os antigos gregos) maior, parece apontar a direção oposta àquela que somos forçados a seguir. Nosso par, num passo antipático, reluta em seguir nossa dança.
Essa desarmonia, no momento em que seis planetas estão retrógrados, é sentida mais intensamente. São seis pares com passos ao avesso. São seis danças tumultuadas. O baile em si parece ser uma vertigem. Tudo gira em descompasso. A vida se agita num turbilhão.
Mas há uma outra forma de interpretar (e de sentir) esses eventos. O movimento retrógrado é uma ocasião pra refletir, repensar, parar pra ver o que nos tornamos. É um momento de estarmos a sós. É uma pausa na dança. Isso é fundamental: há sempre o momento em que o fluxo existencial parece parar. Ou melhor: parece nos intimar, desde um altíssimo promontório, a uma mirada no horizonte. Isso às vezes é doloroso. Às vezes, reconfortante. Mas é sempre uma oportunidade pra tornar a vida melhor.
A vida continua. O tempo não para. Nosso par voltará a nos esticar a mão, a nos olhar nos olhos, a nos sorrir. Nosso passo retomará seu ritmo – dois pra lá, dois pra cá. Nossa valsa não cessa de tocar. A dança seguirá sempre na mesma e sublime translação.
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