Opinião

Uma copa em dois jogos?

Uma copa em dois jogos?

Tite é arrogante. Inteligente, bom treinador, líder respeitado – mas arrogante. Dani Alves convocado? Arrogância. Poucos defensores no elenco (que aliás farão muita falta)? Arrogância. Explicações afetadas num chatíssimo idioma “titês”? Muita arrogância. No último jogo, esse defeito chegou a um extremo histórico. Graças à sua arrogância, quase há uma tradédia.

Certo, não seria bem uma tragédia. Nem mesmo na escala futebolística. Mas bastava um golzinho da Suíça, só mais um, pra tudo mudar. Neste caso ficaríamos em segundo no grupo. Em vez de Coreia e (provavelmente) Japão, pegaríamos Portugal e (mui provavelmente) Espanha. Exatos nove minutos correram entre o gol de Camarões e o fim do jogo da Suíça. Nove longos minutos em que Tite provou, gota após gota, o fel da própria arrogância.

Duas horas antes da partida, quando a Coreia carimbava a classificação, Tite deve ter experimentado um instante epifânico: “vou ganhar a copa em dois jogos”. No horizonte que se abriu em seu delírio, ele viu apenas os dois últimos adversários: nas semis, a Argentina; na final, a França ou Inglaterra ou a Espanha. Antes deles, apenas um rito de passagem com os orientais. E antes disso… quem era mesmo? “Ah, sim”, ele lembrou, “hoje treinamos contra Camarões”.

Escalar o time reserva foi o cúmulo da arrogância. Por pouco, muito pouco, ele não paga caro por isso. Na verdade, foi mais que arrogância: foi insensibilidade. Havia 86 mil almas ontem em Lusail. Quase todos torcendo pelo Brasil. Entre estes, a maioria era estrangeira: fãs do nosso futebol que se desiludiram com ele. Foi triste a volta no metrô. Tive vontade de pedir desculpas a cada um desses fãs: “sorry, man, maybe the next!”

Tite demonstra não ser sensível a algo básico: o espírito da copa. O time tem que encorpar, os craques têm que brilhar, o povo tem que aplaudir. Quem tem falado de nossos feitos nas ruas do Catar? Parece que ainda nem estreamos.

A derrota de sexta contém esta mensagem: “vamos, é agora, a copa não é só os dois jogos finais!” Tite é arrogante, mas é inteligente. Há de saber ouvi-la. Há de ser hoje.

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