Arte

Vendo

Vendo
Arte sobre "50 cents piece" de Basquiat

Vendo tudo. O bagulho todo. Boné dos states & tênis dos states & correntão de ouro. Vendo carro e moto emplacada. Vendo máquinas implacáveis. Vendo uísque importado com o bico fechadinho. Vendo confissão e silêncio. Vendo coisas e não coisas. Vendo tudo, tio. Remédio de erva? Vendo. Viagra caseiro? Vendo. Felicidade em pacote? Tenho muita estocada. Vendo veneno refinado. Cenzão na bucha. Vai querer quantas, tio?

Vendo meu tempo se precisa. Meus anos. Minha negra juventude. A vida tá à venda, tio. Vai lá tranquilo. Janta gostoso com a patroa. Eu cuido do carro. Aqui é minha área. Do alto do morro até a porta do shopping. Tá tudo dominado. Pode ir. Fico aqui até voltar. Já vendi minha noite inteira. Não há o que eu não venda. Tenho viagra caseiro se precisa.

Medo também tenho. Inclusive pra vender. Parada muito louca essa de fazer e vender medo. Os cara compra. No atacado. E revende no varejo a preço alto. Puta negócio. Queria ser um atravessador desses que compra medo de nóix e distribui em larga escala pras famílias do paíx. Puta negócio. Pra todo mundo. Quer dizer, pra todos eles. Os home tá rico vendendo proteção. Os templo tá rico vendendo a palavra. A gente tá pobre comprando a pax.

Vendo de tudo, tio. Inclusive verso. Faço rima. Tem umas batida que parece me arrancar o rap da goela. E aí já era. É nóix. Flow –

No beco da fome

Os home escancara

Uns cara sem nome

Num só pau de arara

E cria alvoroço

Em torno dos osso

Que é joia rara

No beco da fome.

Tá pra venda esse verso. Gostou não, tio? Entendo. Tenho outros se precisa. Uns sem tristeza & tals. Uns que dava até pra ser poema de reggae. Tenho estocada felicidade em pacote. E veneno refinado. Cenzão na bucha. Vai querer quantas, tio?

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