Militares não fazem o meu tipo. Nunca fizeram. Não sei exatamente o porquê. Acho que é a farda. Não gosto de homens com roupas que remetam a um grupo, a uma instituição, a uma “força por trás”. Gosto daqueles parecem trazer toda a sua força dentro de si. Homens com um jeito próprio de se vestir e falar e pensar. Homens que não repetem doutrinas. Homens livres. É, talvez seja isso: militares não me parecem livres. Ou talvez eu não os aprecie simplesmente porque eles nos governaram por duas longas décadas e entregaram o país apodrecido pela crise, pela corrupção e pelo crime. E sobretudo porque deixaram um rastro de sangue dos corpos torturados e mortos.
Mas confesso que tô com pena deles. O povo tá avacalhando demais. Essa história da compra do viagra, por exemplo. Tenho um amigo cardiologista que confirmou: o remédio serve ao tratamento da hipertensão pulmonar. Disse mais: se eles quiserem rémedio pra esses propósitos lascivos, podem comprar cialis (que meu amigo considera bem mais eficiente, considerando tais propósitos) com algum dos muitos auxílios que recebem do governo.
Mas então veio outro escândalo: os militares compraram – com dinheiro público, bem claro – próteses penianas. Aí não tem jeito, temos que admitir: isso só pode servir pra deixá-los de pau duro. Ou meio duro, sei lá. Nunca conheci um homem com uma prótese peniana. Deve ser esquisito. Mas, enfim, quem sou eu pra dizer? Tenho 68 anos e uma vida sexual tão ativa quanto a Wal do Açaí no seu cargo público. Vou me permitir supor que há alguma explicação razoável pra essa compra governamental.
Como é razoável, aliás, a compra de botox. Os militares gastaram meio milhão nisso. Os críticos disseram o diabo, mas eu entendo perfeitamente. A verba pública, nesse caso, serve a fins indenizatórios. Imagine-se um general no governo ora reinante. Assistindo de dentro a tudo o que vem se passando. Tendo que suportar o presidente se identificar com eles, militares. Vendo sua reputação escorrer pelo ralo. Gente, isso dá rugas! Nada mais justo que o auxílio-botox. Deveriam cobrar ainda danos morais e estéticos. Enfim, deixo aqui minha solidariedade aos senhores de farda. Não fazem meu tipo, especialmente se usam próteses e botox. Mas há que compreendê-los: nunca passaram por um momento tão difícil.
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