É sábado, baby, é amanhã. Depois de tanto tempo. Tanta tristeza. Tanta solidão. Ficamos reclusos por longos meses da nossa vida, baby. Nossa vida não tem tantos meses assim. A gente não tem tempo pra desperdiçar. Mas fomos obrigados. A reclusão era um dever. Um compromisso. A gente é jovem e não morreria. Nem eu nem você tivemos medo de adoecer. Mas sim de matar, de levar a morte, de ser o vetor. A gente perdeu muitos meses de nossa juventude, baby. Mas ninguém morreu por nossa causa.
Sim, eu sei, eu nunca te chamei de baby. Sei lá por que agora tô chamando. Acho que é por causa do Cazuza. Tenho ouvido discos do Barão, baby. Tenho ouvido muitos discos. Tenho pirado com o toque do diamante na face preta empoeirada. É tão real, baby. O toque, o som, o pó. Tão anos 80. A gente nem tinha nascido, eu sei. Mas sei lá, parece que estivemos ali ouvindo Cazuza e lendo Ian Curtis e gritando na praça “Diretas já”.
Na praça, baby, vou te encontrar. Depois de tantos meses. Depois de tantas mensagens. Depois de tanto tempo perdido no insta e no whats. Tanta solidão. Minha mãe é doente, baby, cê sabe. Ela só tem a mim. Eu só tenho ela. Nunca tive medo de adoecer. Mas sempre tive pânico de adoecê-la. E me tranquei em casa. E me perdi nos discos. E mergulhei em mim. Solidão não é tão ruim quanto parece. A gente se liga. Entende umas paradas. Saca umas tantas coisas erradas. E isso, esse aprendizado, essa consciência que vai se alastrando dentro da gente e vai abrindo nossos olhos e vai desmascarando os palhaços, isso enche a gente de indignação. E indignados a gente exala energia, coragem, esperança. E isso é bom, baby. Isso é ótimo.
Eu tô exalando vontade de te ver. Teu cabelo colorido. Tua tatoo e teu piercing. Teu all star azul. Sei lá por que falei isso. Acho que é por causa do Nando Reis. Cê disse que gosta, né? Cê é tão anos 90, baby. Combina tanto comigo, com meu estilo anos 80. E a gente combina tanto com a galera. Todo mundo é tão a cara desses anos 2000. Anos bonitos, baby. Anos que a gente ajudou a fazer. Anos que têm a nossa cara. Eles não podem de repente embrutecer. Não podem se desviar pro abismo. Os anos 2000 passam pelas nossas mãos, baby. É só a gente empurrar o tempo pra direção certa.
Dia 29, dizia seu convite de ontem. Aceito, baby. Tá confirmado. Eu, você, a galera. Amanhã. Na praça. De máscara. A gente vai se ver e se abraçar e fazer, sei lá, o que vier na cabeça. E vai compensar o tempo perdido. Os tantos meses da nossa juventude. O ano negro de nossos poucos anos. Não dá mais pra esperar. Quem sabe faz a hora, baby. Sei lá por que cantei isso. Acho que é por causa do Vandré. Cê disse que curte, né? Eu também. Somos tão anos 60. E somos tão jovens. É tudo uma questão de tempo, baby. Restam poucas horas pra te ver. Resta todo o futuro por construir. Amanhã, baby, amanhã.
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